domingo, 25 de novembro de 2012

SER LÍDER É SER EXEMPLO



O exercício da liderança cristã impõe uma consciência ética. Edgar Morin fala de uma autoética, que gera a responsabilidade de si para si, ou seja, a consciência ética interior do indivíduo, que não está subordinada a qualquer princípio exterior, mas a sua própria interioridade. Essa autoética inclui uma autovigilância que Morin chama de autocrítica.

O líder cristão deve submeter suas próprias intenções, decisões e ações a uma autoavaliação para não se desviar do alvo implícito na sua própria vocação para a liderança. Sem essa vigília permanente de autoética o líder perde sua própria liberdade, torna-se servo das circunstâncias e ao invés de liderar, passa a ser dominado pelos fatos que deveria conduzir, perdendo a autoridade de líder. Se o líder não tiver confiança na sua própria vontade, será impossível para ele levar cada liderado a ter vontade de realizar sua parte no trabalho.

Paulo tinha essa percepção ao dizer: “E todo aquele que luta, exerce domínio próprio em todas as coisas [...], pois eu assim corro, não como indeciso, assim combato, não como batendo no ar, antes subjugo o meu corpo e o reduzo à submissão para que, depois de pregar aos outros, eu mesmo não venha a ficar reprovado” (1 Co 9.25-27). A responsabilidade do líder cristão de si para si tem como aferidor a voz do Espírito que lhe fala através da Palavra.

Além de manter em vigília sua autocrítica, o líder cristão deve receber e avaliar com humildade as críticas de fora, sem o que ele se torna um ditador ao invés de ser apenas o ajudador, o conselheiro dos seus liderados. O líder cristão deve entender que tem a missão de liderar sem jamais se esquecer de que cada liderado tem também a sua missão a cumprir e a função do líder é capacita-lo e ajuda-lo a se tornar feliz por bem cumprir a sua parte.

Manda a ética da liderança cristã que o líder não exija dos liderados mais do que está disposto a exigir de si mesmo. É muito ilustrativa a atitude de Abimeleque, que encontramos em Juízes 9.48. “Então Abimeleque subiu ao monte Zalmon, ele e todo o povo que com ele estava; e tomando na mão um machado, cortou um ramo de árvore, e levantando-o, pô-lo ao seu ombro e disse ao povo que estava com ele: o que me vistes fazer, apressai-vos a fazê-lo também”. O povo seguiu o exemplo do seu líder e a vitória foi conquistada. Os liderados não seguem o discurso do líder, mas a vida que ele vive.

Ele é o exemplo e aqui começa a ética da liderança. Se o professor da classe for pontual, os alunos serão pontuais. Se o líder for liberal em suas ofertas, os liderados serão também liberais. O líder não pode esperar que seus liderados se dediquem à oração e à leitura da Bíblia, se ele mesmo não o faz. O líder pode apelar para que seus liderados evangelizem, façam discipulado, pode até treiná-los, mas se ele mesmo não evangeliza, não tem como esperar que os liderados o façam.

Doze princípios de ética para a liderança cristã

Vamos colocar em ordem alguns princípios éticos da liderança. O líder cristão:

1. Delega responsabilidades. Como fez Moisés seguindo o conselho de seu sogro Jetro (Êx 18.19-22). Isso significa: a) instruir os liderados com clareza e objetividade sobre a tarefa de cada um (versículo 20); b) acompanhar o trabalho dos liderados; c) cobrar resultados, não com severidade de “chefe”, mas com a docilidade de companheiro; d) assessorar e orientar cada liderado na execução da sua tarefa pessoal.

2. Multiplica a glória do sucesso. (Rm 13.7). Ele não busca sua própria glória, mas reconhece o mérito do trabalho de cada liderado e multiplica a glória por todos.

3. Divide as atenções por igual. (Tg 2.9). O líder cristão não mantém preferências entre os seus liderados, mas trata a todos com igual cuidado. Primeiro, porque é comum liderados quererem uma atenção diferenciada para suprir sua vaidade ou para tirar proveito pessoal. Quem se coloca mais perto do poder tira mais proveito do poder. Segundo, ao eleger preferidos no grupo de liderados, o líder passa a ter uma visão distorcida da sua liderança e o seu relacionamento com o grupo fica prejudicado.

4. Identifica-se com os liderados. (2 Co 11.29). Não se sente magoado nem agredido pelo sucesso de qualquer um dos seus liderados, mas se alegra com as vitórias deles, reconhece-as e usa-as como estímulo a todos os demais. A “sombra” de um liderado não amedronta o líder que tem consciência do seu próprio valor.

5. Promove a união entre os liderados. (1 Co 1.10). Não fomenta a formação de grupos ou facções. “Dividir para governar” não faz parte da sua estratégia de liderança porque o sentimento que o domina é o amor e o amor nunca divide, mas soma.

6. Mantém uma compostura de humildade. (Fp 2.3). Jamais demonstra uma atitude de soberba, de “nariz empinado” por causa da posição que ocupa, mas tem sempre em mente que, na função de liderança, é apenas o servo que recebeu a missão de liderar.

7. Divide a culpa pelo fracasso. (Gl 6.2). O líder cristão não acusa seus liderados pelo insucesso de qualquer fase da missão, mas assume sempre sua parte na culpa dos erros cometidos. “Se eu fosse melhor líder, não haveria erros”, é o que ele pensa.

8. Aprimora-se cada vez mais. (2 Tm 2.1,2). Não se preocupa apenas em aprimorar os seus liderados para o bom desempenho da missão de cada um, mas a si mesmo procura aperfeiçoar-se nas qualidades da sua liderança.

9. Transforma as críticas em desafios. (2 Co 10.10-16). Sabe que não está isento a críticas, que podem ser dirigidas a sua própria liderança ou a um dos seus liderados. Sua atitude deve ser: ouvir as críticas com humildade, avaliá-las com isenção de ânimo, não considerá-las como ofensas e não quedar-se amargurado, irado, mas transformar as críticas em desafios para maior crescimento espiritual e melhor desempenho da sua missão, começando por orar em favor de quem fez a crítica.

10. Conhece os liderados. (1 Tm 5.1-3). O líder cristão procura conhecer os seus liderados, e ajudá-los a progredir cada um conforme as peculiaridades da sua personalidade. Embora os liderados tenham uma missão em comum, cada um deles é um indivíduo diferente de todos os demais e assim deve ser tratado pelo líder.

11. Respeita seus liderados. (1 Tm 4.12). É um exemplo em tudo. Preocupa-se em jamais faltar a um compromisso com seus liderados, a não ser por motivo de força maior, do que lhes dará pronto conhecimento. Jamais comparece a qualquer compromisso depois do horário combinado.

12. Ama seus liderados, seguindo o exemplo do Mestre (Jo 13.1). A autoridade sem amor degenera-se em autoritarismo. Os liderados não devem obedecer ao seu líder por medo, mas por amor (1 Jo 4.18).

Pr. João Falcão Sobrinho, RJ 
http://www.ufmbb.org

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