terça-feira, 19 de março de 2013

OS FUNDAMENTOS TEOLÓGICOS PARA A EDUCAÇÃO RELIGIOSA


Neste artigo desejamos que o educador religioso tenha uma teologia da Educação Religiosa, isto é, pensamentos sobre Deus   que  lhe  indiquem  como   fazer  educação.  Enquanto o educador faz  sua  teologia, ele  faz  também  sua  Educação Religiosa.

Procuraremos entender a relação entre os conceitos teológicos que dirigem a vida da igreja e a função educativa dentro desta vida eclesiástica. Abordaremos uma teologia e alguns pensamentos que conduzem a uma teologia da Educação Religiosa.

Vamos estudar algumas das possibilidades que nos conduzem a uma teologia da Educação Religiosa. A experiência da Educação Religiosa ocorre num tipo especial de contexto, que é inicialmente educativo, mas basicamente teológico. Este contexto é a comunidade cristã na qualidade de igreja organizada, uma koinonia ou irmandade, que exerce a sua finalidade em Jesus Cristo e no sacerdócio individual do crente, que goza de um relacionamento íntimo com o Criador e Redentor. No âmago da experiência da Educação Religiosa existem uma mensagem, uma missão e um mandamento a comunicar. Esta comunicação funciona melhor quando proferida dentro da comunidade cristã de amor. É, por certo educativa, mas fundamentada em fortes bases teológicas.

A forte dimensão teológica da experiência da Educação Religiosa não pode ser menosprezada, pois é a dimensão que se encontra no  processo de equipagem e amadurecimento. Quanto mais a comunidade de aprendizes puder aproximar-se da verdadeira natureza da igreja, mais eficiente se torna o seu ministério. A interpretação teológica inicial do evangelho comunicado é a fé individual dos crentes, fundamentada nesse evangelho, com o privilégio e o poder de se encontrarem com o Criador num nível de sacerdócio e serviço pessoal. Este serviço se expressa em termos de atividades próprias da comunidade cristã. É realmente a vivência de uma teologia de fé que se demonstra no evangelismo, nos ministérios sociais, nas missões, no serviço cristão, na educação e no culto.

Neste sentido teológico, o crente é afetado e se torna eficiente por meio do envolvimento pessoal com Deus. Ele se torna o centro do processo de comunicação. O empenho em se comunicar emana de um desejo de fidelidade a um mandamento de desafio e a uma posição de responsabilidade. Centraliza-se no impulso básico do ímpeto educativo e no imperativo teológico de alcançar e ensinar. O crente está no ápice do serviço quando sua vida demonstra a realização do imperativo evangélico.

Quando o testemunho, a educação e a equipagem se tornam os imperativos dinâmicos da igreja, o crente começa a imaginar os resultados significativos de sua própria experiência rumo ao discipulado cristão, bem como a responsabilidade de levar outras pessoas a se tornarem parte do processo redentor do evangelho. A pessoa se torna capacitada a trabalhar e a testemunhar com os significados e valores do evangelho como a base para os relacionamentos totais.

1. Teologia Bíblica: A Diretriz Básica Para o Ministério da Educação Religiosa

Na ênfase sobre a comunidade cristã, como o contexto por meio do qual a comunicação do evangelho vai fluir, deve haver fortes imperativos teológicos sobre os quais a comunicação se fundamente. Três doutrinas são essenciais na teologia bíblica que fornece a diretriz básica para o ministério da Educação Religiosa:

1. A Doutrina de Deus - Deus revela a sua semelhança básica em caráter e personalidade ao homem, sua criatura da mais alta ordem. A própria natureza de Deus se reflete em sua criatura, o homem, embora este reflexo com freqüência seja desviado e interrompido. Esta é a explicação básica da capacidade humana de buscar a auto-revelação de Deus e pode começar a explicar sua busca de significado, propósito e sentido, que pode residir fora de seu próprio ser. O homem é uma criatura peculiar; é claramente diferenciado por características, capacidades,  liberdades e atributos que não pertencem a nenhuma outra criatura.

Deus criou o homem com um espírito capaz de descobrir a verdade e a razão. O homem se surpreende convidado a pensar os pensamentos de Deus e a imaginar suas obras maravilhosas. Em resposta aos pensamentos do homem, Deus se revela à criação como verdade, ao mesmo tempo em que oferece condições para a descoberta dessa verdade. É nesta estrutura de descobertas e auto-revelação que Deus dá ao homem a oportunidade de descobrir a verdade nos reinos das concepções físicas e espirituais.

Deus também forneceu à criatura a capacidade de distinguir entre o certo e o errado. Mas isto não assegura, de modo nenhum, o bom comportamento do homem; Ele dá, ao homem, um modelo coerente de justiça por intermédio do qual se afirmam às opções morais. Deus se mostra justo ao conceder ao homem um senso do certo e do errado e uma moralidade dependente de sua verdade. O mais importante, contudo, é a auto-revelação de Deus, quando ele proporciona ao homem o poder necessário para viver em justiça.

Deus está sempre em ação em direção ao homem, não importa a reação do homem. A contínua procura humana de um poder ou deidade a quem prestar devoção e lealdade supremas é satisfeita pela revelação voluntária de Deus quando ele de contínuo vai ao encontro do homem, em seu próprio plano, com uma promessa de vida rica e plena.

Esta busca persistente do homem, por parte de Deus, ficou evidente em seus tratos com ele no passado e chega à plenitude na pessoa de Jesus Cristo. A busca do homem, por parte de Deus, continua incessantemente expressa através do serviço de pessoas e de grupos que se submeteram à liderança e ao poder do soberano Deus e agora se dedicam à expansão do ministério de Deus e ao convite a todos os homens.

Assim, Deus está eternamente no trabalho e nas experiências do homem. Está acessível ao homem no desespero e nas frustrações, em sua incapacidade de atingir o alto e o sublime, e em sua incapacidade de tomar decisões corretas e adequadas. Por sinal, o homem pode ter a presença de Deus em todas as circunstâncias. Os recursos do soberano Senhor estão imediatamente disponíveis para a pessoa que lhe responde com amor e fé. A mais leve reação de aceitação abre a vista para os dons de Deus, que confortam, suprem, afirmam, direcionam, aprimoram e desenvolvem tal reação, de modo a se converter em satisfação completa. A pessoa tem confirmações por meio das experiências na comunidade cristã, pois a presença e o poder de Deus em toda a sua soberania se revelam na vida dos redimidos.

Deus fala por meio das Escrituras à sua criatura. A mensagem da Bíblia exige literalmente a comunicação entre a natureza do homem e a auto-revelação de Deus por intermédio de sua Palavra. A ânsia do homem de receber orientação para a sua existência fundamenta-se na auto-revelação de Deus a ele através das Escrituras e em definitivo por intermédio da pessoa de Jesus Cristo. A comunidade cristã tem na Bíblia a fonte que, na linguagem dos homens, realmente revela o que o homem sabe com referência à revelação de Deus e serve de instrumento fundamental por meio do qual o seu propósito redentor para o homem se estabeleça.

Por conseguinte, a comunidade de crentes tem o potencial de facilitar o encontro com Deus por meio da descoberta da necessidade que o  homem tem de ouvir o evangelho e responder aos apelos desse evangelho. A igreja, resultado da salvação divina do homem, é vinculada pelo Espírito de Deus e o comum acordo de débitos. O papel principal da igreja é "manejar corretamente" as Escrituras como oferta de redenção aos homens. Deus, por meio de seu povo reunido em grupos educativos e disperso em testemunhos individuais, dá oportunidade ao evangelho. Nos ministérios da pregação e da educação, a igreja proclama o que Deus fez pelo homem através de sua auto-revelação em Jesus Cristo. Este objetivo de auto-revelação se dirige a todos os homens. O emprego que Deus faz da igreja para se revelar não se limita às reuniões coletivas. Mas Deus se faz conhecer por meio de palavras e atos dos crentes, conduzidos pelo Espírito, quando eles vivem uma vida de obediência, em todos os seus relacionamentos pessoais.

2. A Doutrina do Homem - Quando o homem se toma consciência de sua existência, descobre, de início, que não é a força motriz de quem ou do que ele é. Sua existência não é necessária em relação ao ato criador de Deus - ele poderia simplesmente não ter existido, caso Deus assim o quisesse. O homem é eternamente dependente do Criador para a existência presente e futura. O homem descobre sua natureza criada em suas experiências de dependência, que constantemente o fazem recordar de sua subordinação a um ser supremo.

O homem faz uma segunda descoberta:  a existência que lhe é concedida é uma existência moral-social. A aceitação deste conceito o faz examinar o centro pessoal do individualismo e, ao mesmo tempo, o relacionamento dinâmico do coletivismo além da esfera individual. Todo o mundo humano reflete as responsabilidades sócio-pessoais do homem. A instituição e a convenção preservadas para a transmissão da verdade e do valor tornam-se uma liberdade ou restrição constante para o homem.

As reações podem tornar-se individualistas ou coletivistas, dependendo dos relacionamentos interpessoais do homem. Quando não existe uma ação aberta contra a esfera coletiva ou individual, o homem se agrupa gregariamente. No entanto, dentro deste forte coletivismo, encontramos uma individualidade criada por Deus e confirmada pela fé cristã, que permite a liberdade individual dentro das limitações do coletivismo. Esta prática se limita a um relacionamento privilegiado e protegido, comumente considerado familiar ou de um pequeno círculo de amigos. O homem descobre esta prática privilegiada quando participa pessoalmente do corpo coletivo - a igreja. Dentro de suas limitações, ele pode assim praticar mais eficazmente a existência humana moral-social centralizada em Cristo.

A terceira descoberta do homem é a procura pelo permanente no processo da mudança. A imaginação do homem o leva a ver que o potencial de tudo só se realiza parcialmente, quase sempre de modo fragmentado. Sua percepção do mundo é incompleta. Esta consciência ajuda a desenvolver os interesses religiosos do homem.

Como apreender a realidade quando todas as suas representações são um misto de realidade e irrealidade? Existem dois meios de se resolver a frustração entre o imutável e o mutável. Deve-se chegar à conclusão, através da fé, de que Deus é um ser transcendente e não sofre mudança. Deus é eterno e não sofre a ameaça da mudança nem está sujeito a ela. Por conseguinte, a pessoa que participa do eterno com Deus não está sujeita ao caráter transitório da experiência, mas firmada na imutabilidade de Deus através da fé, e não pela experiência. Em segundo lugar, as frustrações do homem são postas de lado quando ele descobre que Deus está em ação dentro da mudança e em comunhão com ele no processo de união da mudança com a realidade eterna, na qual ela se apóia. O homem quer participar responsavelmente da criação e, por conseguinte, contribui para a mudança como agente ativo do eterno.

3. A Doutrina da Salvação - Ao se dar em auto-revelação em Cristo, Deus criou o homem com o objetivo de amar e de ter comunhão. Em troca, ele pretendia que o homem o amasse e honrasse. Contudo, como o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus, com o livre-arbítrio e a propensão de agir responsavelmente, optou pela revolta contra Deus, em vez de reagir em amor. Embora lhe pertencesse a capacidade de reagir positivamente para com Deus, o homem se alienou da promessa e da presença de um Pai amoroso. Apesar do pecado do homem, Deus procurou sinceramente amá-lo e buscá-lo. A história demonstra como Deus agiu em favor do homem, com a intenção de redimi-lo. Devido ao seu ato de imenso amor para com o homem, é possível uma reconciliação e a restauração ao estado anterior de comunhão por intermédio do sacrifício de Cristo no Calvário. Esta reconciliação redentora permite ao homem cumprir o objetivo divino de sua vida.

O ato de Deus em Jesus Cristo confronta o homem com uma decisão inevitável. A natureza desta decisão afeta as situações da vida presente, bem como o ato de entregar-se, e também afeta a afirmação contínua de filiação. Embora inúmeros fatores humanos estejam presentes no encontro divino-humano, o homem é sempre livre para optar. A resposta negativa provoca uma separação e alienação contínua, que termina eventualmente em morte. No entanto, uma afirmação do arrependimento em fé e amor assegura a filiação, que inclui o perdão, a aceitação e a misericórdia.

Quando ocorre esta experiência com o Deus vivo, o homem se torna uma nova criação em Jesus Cristo. Começa a plenitude de uma peregrinação filial, que surge na descoberta progressiva de tudo o que Deus é e de como ele se revelará através do poder e da presença do Espírito Santo. A partir daí, manifesta-se uma nova plenitude, sem omissões, prometida por Deus e revelada em Jesus Cristo. Um novo senso de obediência aos princípios de Cristo é descoberto, e uma nova liberdade de viver segundo estes princípios é fornecida na liderança de Cristo. A aceitação de Jesus Cristo é a aceitação de uma nova natureza, modificadora da vida e orientada para Deus.

O relacionamento pessoal contínuo com Cristo, após a conversão, é um processo de amadurecimento espiritual. Este processo se realiza por meio da obediência e da disciplina pessoais e através da participação ativa na existência contínua da comunidade cristã reunida, a igreja. O processo de crescimento em Cristo não é automático, mas antes uma peregrinação contínua. Existem relacionamentos com Deus e com os irmãos crentes que precisam ser cultivados. Embora os crentes provenham de muitas formações e culturas diferentes, observa-se um senso de similitude na comunidade cristã, que dá expressão às experiências coletiva e individual na vida mais abundante que Cristo prometeu. O privilégio mais abençoado, contudo, é que o crente descobre que sua experiência crescente com Deus, com Cristo e a comunidade cristã satisfaz os mais ardentes anseios de sua alma.

Uma das atividades mais necessárias do Filho de Deus é desenvolver uma filiação significativa com os seus irmãos crentes na comunidade cristã. Não há como o crente viver isolado dos outros crentes e continuar sendo um crente normal, em crescimento. Alguns de seus relacionamentos mais significativos serão experimentados graças à sua associação com os outros filhos de Deus. O crente, em virtude de sua experiência de conversão, é um membro da família de Deus. O valor da comunhão cristã é que ela dá assistência ao novo crente. Embora a comunhão cristã seja uma experiência satisfatória para o crente, sempre há insatisfação, em muitos sentidos, no mundo transitório. A promessa da esperança futura, tanto através da Palavra quanto através da experiência da morte de irmãos crentes, produz um desejo ardente de relacionamento eterno, que é mais importante do que o relacionamento terreno. A resposta ao dilema está na afirmação da conquista e no triunfo do Senhor Jesus Cristo sobre o mundo atual e sua degradação. A esperança da vida eterna e do triunfo do reino de Deus dá segurança ao crente. Ser um herdeiro de Deus e co-herdeiro com Cristo é descobrir um relacionamento de significação eterna. Há poder na fé vencedora, que será, finalmente, consumada por meio da esperança gloriosa. Embora o crente não conheça totalmente o futuro ou a realização plena de sua esperança, ele tem a serena certeza de que será semelhante a Cristo, pois o verá como é e viverá em perfeita harmonia e comunhão com ele eternamente.

2. Teologia Prática: A Necessidade Fundamental da Educação  Religiosa

A teologia que encontra expressão na vida é a meta e a necessidade fundamental da Educação Religiosa.

1. O Conceito do Ensino como Teologia Prática - O conceito do ensino como teologia prática implica que o homem é educável e que, por meio do processo da instrução dada por outros crentes, tem a possibilidade de reagir à vocação recém-descoberta como filho de Deus. A questão de tornar-se filho fiel, com um estilo de vida que reflete as promessas de Deus, significa um crescimento ou processo de maturação. O convite de Deus ao cristianismo não é um convite comum; exige que o crente submeta todo o seu ser e potencialidades à vontade de Deus, cumprindo a sua mordomia em todos os domínios de sua vida. O homem que atende ao convite de Deus não precisa de outra razão para crescer senão o imperativo: "Sê perfeito como eu". Só este propósito provê o conceito da educação como teologia prática.

O significado e a experiência do discipulado podem ser desenvolvidos em diversos aspectos da teologia prática. Estas variações se apresentam ao crente em termos de responsabilidade moral, relacionamentos do crente, envolvimentos econômicos, finalidade e razão da obediência, implicações sociais propositais, exames de alternativas e a aceitação das conseqüências. Através da participação nestas áreas importantíssimas, o cristão pode interagir com o lado realista de sua vocação recém-adquirida e assim praticar a teologia, que é o âmago de sua vivência como nova criatura e filho de Deus.

2. O Contexto do Ensino na Igreja Local - A tradição cristã da instrução tenta tornar-se competente por meio da ajuda e da experiência dos outros crentes. O discipulado é o contexto instrucional necessário na igreja local. O discípulo deve tornar-se igual ao professor. O professor, por sua vez, deve passar ao discípulo a guarda e a proclamação da mensagem. A descrição da vida cristã como discipulado indica um relacionamento semelhante com Jesus Cristo. Este relacionamento é aprendido por meio da orientação do Espírito Santo e da instrução dada por professores fiéis.

O discipulado do cristianismo moderno é um relacionamento definido como o de um filho diretamente com Deus, através do compromisso com Jesus Cristo como Salvador e Senhor. Existe também um relacionamento prático do aprendizado e obediência na comunidade cristã, a igreja. Esta fornece a disciplina e o apoio ao processo de aprendizado e obediência, para que o crente possa refinar, definir e esclarecer o objetivo com que se comprometeu. A redefinição e o esclarecimento resultantes da instrução na igreja ajudam o crente a empregar suas energias em atividades produtivas, semelhantes às de Cristo. O discípulo, em relação a seus outros irmãos crentes, é corrigido e corrige a comunidade cristã de que faz parte ativa e vital.

A comunidade cristã proporciona o ímpeto rumo ao crescimento contínuo do discípulo. A sede de buscar e ouvir as verdades profundas da Bíblia aumenta por meio do envolvimento pelo compromisso na comunidade cristã. A prática incentivada da oração, do culto e da reflexão, tão necessários ao crescimento espiritual, centraliza-se na comunidade e em suas respectivas reuniões. O crente que procura verdadeiramente se preparar apreciará as correções mútuas e as restrições entre os crentes da comunidade. Da mesma forma, a comunidade oferecerá atividades de responsabilidade que permitem ao crente demonstrar a liberdade da vida em Cristo. O contexto propicia o culto público e privado, o estudo, as devoções, o testemunho do evangelho, a compreensão do mundo secular, o amor por um mundo perdido e atividades de apoio para a família, a comunidade e a vida nacional.

3. O Compromisso com o Ensino da Fé Cristã - O compromisso básico do crente é o interesse pela fé cristã, na expansão e ampliação do reino de Deus. O reino de Deus é uma representação bíblica que reconhece a soberania de Deus e interpreta para o crente a modalidade de conduta e estilo de vida, necessários à vida dentro do reino. O supremo compromisso a ser articulado a cada discípulo é a aceitação de que a vida deve ser conduzida pelos propósitos do reino de Deus. O crente deve, continuamente, tomar decisões no tocante ao seu apoio, à rejeição ou acomodação à ordem existente. O crente está sempre enfrentando um sucesso parcial ou um fracasso parcial. Não obstante, a promessa do reino, através da igreja, renova e reforma toda a comunidade cristã. Através deste processo de renovação e reforma, a igreja se compromete com o reino e, pela perda de sua vida, a salva.

O compromisso com o reino deve instruir o crente a viver no reino de Deus ainda que permanecendo neste mundo. O reconhecimento desta cidadania espiritual dá testemunho da realidade do reino e torna esta realidade mais evidente. Deus trouxe o reino, e o homem é convidado a entrar nele e a viver o mais harmoniosamente possível nesse reino.

A entrada no reino de Deus é demonstrada por meio da vida e da obra do discípulo alistado. Os crentes reunidos por meio do culto, do estudo, do arrependimento, da busca do perdão e do louvor e adoração estão preparados para retornar às suas tarefas diárias com um renovado compromisso e a resolução de viver como seguidores de Cristo. A igreja é o símbolo principal do reino. Ela vive pelo seu discipulado , através dos discípulos individualmente comprometidos, que, por palavras e atos, continuamente abrem o caminho para a verdade salvadora através de Cristo. A instrução para o comprometimento continua como a pedra fundamental da fé cristã.

3. Ministério Pessoal: A Evidência Suprema da Educação Religiosa

O envolvimento dos cristãos no avanço do ministério de Cristo e na missão da igreja é a evidência suprema da Educação Religiosa eficiente.
           
1. A Aceitação do Sacerdócio Como uma Pedra Fundamental do Ministério - Quando alguém aceita a Cristo, ele entra em um novo relacionamento com Deus que dá início a um processo de transformação que dura toda a sua vida. Além disso, ele dedica todo o seu ser a Deus. Por meio da presença constante do Espírito Santo, o crente sabe que não está totalmente transformado e que há coisas em sua vida que não são como deveriam ser. Mas ele ousa confiar em Deus, que iniciou este processo em sua vida, através da fé que descobre em Jesus Cristo.

A nova pessoa em Cristo se entrega a um novo tipo de servidão, a um sacerdócio de servidão. Ela se oferece como serva e descobre uma liberdade nunca antes conhecida em sua vida; começa a descobrir deveres e responsabilidades, na liberdade recém-conquistada, que devem ser executados em favor dos homens, por amor a Cristo. Reconhecendo que o Senhor "não veio para ser servido, mas para servir" (Mt 20.28), o cristão descobre que o Senhor de sua vida está atuando ativamente dentro dele, num empenho de transformar a parte da sociedade que lhe toca.

Existe uma outra descoberta neste sacerdócio. O cristão passa a compreender que a nova vida que lhe foi dada deve ser compartilhada com as pessoas ao seu redor e que, em compartilhar essa vida, ele realiza sua potencialidade total como filho de Deus. Ele está livre para viver e servir ao próximo em dedicação total. Este serviço é um sacerdócio dado por Cristo e desenvolve sua vida mais consistentemente como filho de Deus.

2. A Realização do Homem Como Aceitação da Missão - O sacerdócio do crente encontra o seu maior potencial na igreja, que é organizada com o objetivo da auto-revelação de Jesus Cristo através da missão ativa. A missão da igreja pressupõe a educação. A utilização eficiente da faculdade do homem, por parte da igreja, para o seu impulso de missões, toma em consideração o conhecimento da doutrina bíblica do sacerdócio do cristão e ajuda a cada membro na descoberta das oportunidades para um ministério eficiente.

O conceito do sacerdócio do cristão envolve o direito de cada indivíduo de se apropriar da mensagem de perdão do pecado proclamada no evangelho e a igual responsabilidade de dar testemunho a outros acerca da disponibilidade da salvação. É fato bíblico que cada parte do corpo de Cristo tem função distinta e que cada cristão tem uma obra responsável na missão e na vida da igreja. A descoberta do que pode ser essa obra para cada membro é tarefa que a igreja deve criteriosamente identificar. A igreja está organizada de tal modo que uma estrutura de participação máxima na missão da igreja é incentivada na vida de cada membro. Este ímpeto assegura o incentivo e a realização do homem quando ele aceita a missão da igreja e se torna participante ativo desta missão.

3. O Avanço do Ministério por Parte de Cada Crente - A preocupação principal da igreja é ensinar para enriquecer as vidas e principalmente equipar o crente no avanço de seu ministério no mundo. Todo membro da igreja tem um lugar de responsabilidade no ministério total da igreja. A verdade é que cada crente é um ministro de Cristo e, no conceito do sacerdócio do crente, está encarregado de realizar um ministério ativo e eficiente no interesse do Senhor. A esperança do reino está na igreja, que coloca uma grande ênfase na investigação e descoberta de pessoas que queiram aceitar a carga de uma tarefa do ministério. A igreja deve ser criteriosa em transmitir aos membros um discernimento vital do significado da missão e da necessidade de envolvimento pessoal nessa missão.

Para que a igreja realize o seu ministério, todos os membros devem aceitar a responsabilidade de ser ministros de Cristo e participar do treinamento e da orientação que a igreja oferece para facilitar a realização eficiente da obra. À luz deste fato, a igreja deve realizar programas avaliatórios de ministério eficiente para reestudar as diversas formas de ministério. Esses estudos devem fornecer informações sobre a oportunidade da abertura de novas perspectivas de ministério para indivíduos e grupos. Quando a igreja oferece estas oportunidades de ministério e os membros lhe fazem jus, ela, em conseqüência, abençoa, fortalece e afirma a filiação e a "família de Deus". A família agora se torna amparadora, ajudando a todos no mundo. A igreja, então, se torna, através dos crentes, uma participante ativa no reino e se move continuamente rumo à consumação dos fiéis e à apresentação do reino de Deus em sua realidade, não em metáfora.

4. O Padrão Bíblico de Nossos Dias

Examinaremos algumas passagens bíblicas que falam do ensino espiritual e que nos ajudarão a pensar mais claramente sobre o modo como Deus quer que façamos a educação teológica. Em seguida, sugerimos algumas de suas implicações para a função educacional da igreja.

Muitas passagens bíblicas nos podem ajudar na elaboração de uma teologia da Educação Religiosa. Sem a pretensão de esgotar o assunto, três trechos serão estudados com algum detalhe: um do Antigo Testamento, um dos Evangelhos e um das Epístolas de Paulo.

1. Deuteronômio 6.4-9 - Os hebreus chamavam esta passagem de Shemá, a primeira palavra de sua confissão de fé. Se os judeus tivessem de escolher a passagem mais importante dos livros da lei, provavelmente a escolha recairia sobre este texto. Estas palavras indicaram como transmitir a seus filhos e às gerações posteriores o que Jeová havia feito por eles. Neste sentido, o Shemá foi a base do sistema educacional dos hebreus/judeus, o povo escolhido de Deus.

A ordem aqui dada aos hebreus de passar os preceitos de Deus a seus filhos chegou num momento crítico da história do povo de Israel. Moisés, o líder dos hebreus naquela época, que recebia revelações e palavras diretamente de Jeová, que conheceu pessoalmente Jeová numa sarça ardente e que recebeu os mandamentos de Deus para seu povo em contato quase direto com Deus, esse mesmo Moisés, que foi a figura principal das narrativas encontradas nos livros de Êxodo, Levítico, Números e ao fim do Deuteronômio morreria. O povo então precisava de uma forma de preservar seu passado histórico sagrado. O povo precisava de uma forma para transmitir sua fé, de transmitir a seus filhos a Palavra de Deus, os mandamentos, as leis e os princípios que transformassem suas vidas.

Foram palavras ditas a Israel, o povo de Deus. Nelas encontramos, portanto, princípios e direção para a Educação Religiosa a função educacional do novo povo de Deus - a igreja. No Shemá encontramos uma prefiguração da metodologia usada por Jesus no seu trato com as pessoas e seu compromisso com o Pai para transformar as vidas de seus seguidores.

Larry Richards, em seu livro A Theology of Christian Education ("Teologia da Educação Religiosa"), sugere e desenvolve três princípios que formam a base do ensino ao povo de Israel, conforme o texto em foco, e aponta paralelos na Educação Religiosa. Apresentaremos agora tais princípios e, ao final, nós iremos nos ocupar de seus paralelos.

Em primeiro lugar, os versículos 3-6 desta passagem chamam a  atenção para a figura do mestre. Quem ensina deve ter uma relação de amor pessoal com Deus. Além disso, esse amor terá que revelar-se e cumprir-se na interiorização da Palavra de Deus ("estas palavras (....) estarão em teu coração").

Em segundo lugar, o Shemá ensinou aos israelitas que a educação religiosa se transmite no lar, de pais a filhos, ou seja, a transmissão eficaz da fé, das verdades divinas ocorre num ambiente familiar, onde geralmente há estabilidade, amor, intimidade e o compartilhar variável, mas estreitamente entrosado de seus componentes. O quadro que o Shemá nos apresenta é o de edificação dentro de relações interpessoais saudáveis.

Em terceiro lugar, os versículos 7-9 indicam que o ensino se realiza no contexto da vida. O uso da mezuzá foi o cumprimento da ordem contida no versículo 9. Apesar de os israelitas haverem tomado esses mandamentos literalmente, qual era o seu significado? É que na vida do indivíduo deve existir evidência da lei em seu coração, e ele deve aproveitar toda oportunidade para ensinar as verdades divinas.   O Shemá ensina que a instrução do povo de Deus nas verdades divinas se faz de três maneiras principais: com um modelo ou exemplo, com relações interpessoais e dentro do contexto da vida.
           
2. Lucas 6.40 - Em sua versão do Sermão do Monte, Lucas apresenta aos ouvintes princípios de um sistema de valores radicalmente diferente dos valores do mundo. Lucas começa com as bem-aventuranças, no versículo 20, e prossegue descrevendo a vida do súdito do reino, de modo semelhante ao de Mateus. A partir do versículo 38, Jesus está falando da responsabilidade que tem o discípulo de fazer outros discípulos. Com tal responsabilidade, é de suma importância que o súdito do reino viva corretamente, de acordo com valores elevados. Para realçar a importância do viver correto, Jesus usa três metáforas: um cego não guia outro cego, um discípulo não é maior do que seu mestre, e o contraste entre a trave e o argueiro.

O objetivo de um discípulo no tempo do ministério terreno de Jesus era ser como seu mestre. A palavra que corresponde a "instruído" ou "aperfeiçoado", em grego, significa "ser remendado" algo que está quebrado ou rasgado, sejam redes, sejam animais ou homens. Aqui temos, pois, a figura de um processo de consertar um homem quebrantado, isto é, fazer crescer e amadurecer uma pessoa que até então havia sido mera criatura de Deus, para que se torne um verdadeiro filho de Deus, vivendo de acordo com os princípios que Jesus apresentou como características do súdito do reino. Esta maturidade se realiza na medida em que alguém segue seu mestre, e a pessoa, por sua vez, já deve demonstrar as características de súdito do reino de Deus.

Assim sendo, o versículo 40 deve abalar nossa compreensão obtusa da função educacional da igreja. Na nossa compreensão existe a firme convicção de que nesse versículo Deus nos quer dizer algo muito importante quanto ao modo como seu povo deve ser educado. É uma compreensão que pode ser revolucionária para nossos programas acomodados de educação. O texto nos passa três lições que nos ajudam em nossa busca de uma teologia da educação: aquele que segue a Cristo deve ter por objetivo ser como ele foi; as pessoas a quem  Deus  conferiu  a  responsabilidade de guiar,  instruir e discipular devem ser imitadoras de Cristo, vivendo com elevados princípios e maturidade espiritual, porque os seus discípulos ou alunos têm também o objetivo de ser iguais ao instrutor ou professor; a idéia de que o objetivo da educação do povo de Deus é apresentar dados e instrução cognitiva sobre Deus é um conceito incompleto e inadequado, do ponto de vista bíblico.

Essas três idéias podem ser resumidas observando-se as palavras do versículo 40: "será como". Note-se que o texto não diz: "saberá o que o seu mestre sabe", mas "será como o seu mestre". Que responsabilidade para aquele a quem Deus colocou como mestre diante de seu povo!

3. Efésios 4.12 - Este versículo se encontra no contexto de uma das discussões de Paulo acerca da diversidade de dons dentro do corpo de Cristo, que resulta na unificação do corpo. Depois de mencionar alguns ministérios ou dons na igreja, Paulo diz que o propósito da existência de tais ofícios é "o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo", isto é, as responsabilidades daqueles que instruem o povo de Deus na igreja, através da pregação, da interpretação da vontade de Deus, do ministério pastoral e do ensino espiritual, fazem parte de um processo evolutivo visando à maturidade do povo de Deus.

A palavra "aperfeiçoar", aqui, tem a mesma raiz da palavra usada para "remendar", que vimos em Lucas 6.40. Parece, portanto, que Paulo está dizendo à igreja em Éfeso que o propósito desses dons, assim como a responsabilidade dessas pessoas, é guiar o povo de Deus em um processo de preparação para a sua utilização no ministério (serviço) da igreja, para que esta seja edificada, reforçada, amadurecida.

Dois aspectos interessantes que queremos enfatizar nesta passagem:

Um é que Paulo parece estar falando de uma edificação do corpo dentro do corpo, como forma de desenvolvimento interno através do qual a igreja amadurece.

O outro é que no contexto desta passagem encontramos a organização da igreja primitiva, que abrange ofícios diversos para diferentes responsabilidades, cada um dos quais contribuindo para a edificação da igreja. Tal organização nos dá a entender que Deus aprova, se é que não ordena, um sistema organizado e ordenado, segundo as indicações do Espírito Santo, para efetuar a instrução de seu povo. Vejamos, a seguir, algumas das conseqüências de tal pensamento para nossa teologia da educação.

Destas passagens, extraímos alguns pensamentos que nos ajudam a começar a formular uma teologia da Educação Religiosa. Havemos de convir que uma teologia baseada apenas em três passagens bíblicas será parcial, mas oferece a base suficiente para uma elaboração maior. Uma teologia da educação não deve ser estática, mas sempre dinâmica, em busca de novas formas de expressão. Vamos analisá-las,  a  seguir,  sob  os  seguintes  aspectos: modelo ou exemplo; relações interpessoais; contextualização; discipulado e organização.
  
a. Modelo ou exemplo - Como vimos em nosso estudo do Shemá, Deus quer que um pai seja bom exemplo para seu filho. De igual modo, a pessoa de maior fé deve ser um bom modelo para aquela de menor fé. Para que a igreja possa crescer, é necessário ter a Palavra em seu coração e viver a Palavra.

A educação na igreja se realiza, pelo menos, em dois níveis: a educação formal, através da escola dominical, escola de treinamento, sociedades missionárias, estudos bíblicos etc; e a educação informal, que se realiza toda vez que nos reunimos no templo ou fora do templo. Quando uma pessoa conhece a Cristo, e assiste aos cultos, e se batiza, para fazer parte da família cristã, como é que aprende em quem deve crer, como deve agir, viver, cultuar? Na educação formal, é verdade. No entanto, mais do que isso, ela aprende com os demais crentes com os quais mantém contato. Os outros cristãos, mais amadurecidos (teoricamente) do que essa pessoa, servem-lhe de modelo.

A paráfrase de uma afirmação de Richards chama nossa atenção para esta responsabilidade: na educação ensinamos o que sabemos, mas, na Educação Religiosa,  ensinamos o que somos. Todo educador religioso, todo pastor, enfim, todo cristão deve examinar sua vida e perguntar: "Quero eu, tal como sou, ser modelo para aqueles que minha igreja espera ganhar para Cristo?" Ou: "Posso eu, tal como sou, ser um exemplo digno para minha congregação ou minha classe?"

O processo de ensino empregado por Jesus baseava-se em seu conceito de ser modelo para os seus discípulos. Jesus disciplinava seus seguidores ensinando-os com sua própria vida. Ele disse: "Porque eu vos dei exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também" (Jo 13.15).

b. Relações interpessoais - O quadro didático entre pais e filhos, apresentado no Shemá, é de estabilidade, amor e intimidade. Este mesmo ambiente familiar deve existir na igreja enquanto desempenha sua função educativa. Devemos promover, estimular e apoiar a Educação Religiosa no lar e, ao mesmo tempo, com a ajuda do Espírito Santo, criar um ambiente familiar dentro das atividades educacionais da igreja. Qualquer outro tipo de educação pode ser eficaz sem amor, mas, no caso da Educação Religiosa, isso não é possível.

Deus nos indica de forma direta, através do Shemá, que os pais têm a responsabilidade de ensinar os preceitos divinos a seus filhos. A educação familiar não é um ramo da educação espiritual separado da igreja. É, isto sim, parte integral da função educativa da igreja, porque,  se não existe no lar uma relação de amor que edifique a família cristã, seus efeitos se farão sentir em toda a vida da igreja. O culto (ou o devocional) doméstico pode afetar profundamente o nível espiritual da igreja.

Os que ocupam lugares específicos de responsabilidade na educação formal da igreja devem conhecer seus alunos para que se estabeleça um clima familiar em sua classe. Eles devem visitá-los em seus lares, saber os seus nomes, orar por eles, conhecer seus familiares e as circunstâncias de sua vida diária, para que estes conhecimentos os ajudem a estabelecer um ambiente familiar em sua classe dominical.

Jesus alcançou êxito em seu ministério porque mantinha íntimo relacionamento com seus discípulos. Andava com eles, comia com eles, orava com eles; pregava, chorava, alegrava-se e falava do futuro com eles. E difícil imaginar que os discípulos não sentissem uma irmandade, um ambiente familiar em suas relações interpessoais com Jesus como Mestre.
           
c. Contextualização - Os judeus tomavam os mandamentos do Shemá literalmente. Levavam as palavras de Deuteronômio 6.5 em filactérios (significado no glossário), nos braços e na testa. O uso da mezuzá foi também forma literal de obediência ao mandamento. A curiosidade das crianças em observar diariamente o ritual relacionado com a mezuzá dava aos pais a oportunidade perfeita de ensinar aos filhos a lei de Deus.

A significação destes atos deve ser tão real para a igreja como era a interpretação literal que lhe davam os judeus. Deve haver na igreja uma evidência da realidade das verdades espirituais e da bondade de Deus que penetre em todas as esferas de sua vida. A igreja tem a função de ensinar a Palavra, mas este ensino não deve ser isolado da vida. Não é algo que se limite a uma hora de aula, numa dependência do templo, a cada domingo. É parte integrante da vida e deve adentrar cada aspecto da vida da igreja. Mas a palavra "igreja" não é usada aqui apenas no sentido de vida institucional, constituída de uma programação ministerial e educacional. Mais do que isso, refere-se ao que nós, a igreja, nós, o povo de Deus, o corpo de Cristo, fazemos no templo e também o que nós, a igreja, o povo de Deus, o corpo de Cristo, fazemos fora do templo. A igreja deve aproveitar todas as oportunidades que lhe são oferecidas no contexto de sua vida de igreja (em todos os sentidos) para ensinar as verdades de Deus.
           
d. Discipulado - A palavra "discipulado" tornou-se parte do vocabulário de muitas igrejas evangélicas na América Latina nos últimos anos, principalmente devido a obras como Segue-me, de Ralph Neighbour, e outras. É uma palavra muito importante, pelo simples fato de representar um conceito inevitável para a igreja, que tem de encontrar a maneira mais bíblica de reproduzir-se educacional e evangelisticamente.

A passagem representativa que estudamos antes (Lc 6.40) nos ensina que o princípio implícito no conceito de discipulado é que o seguidor (o aluno) chegue a ser como o líder (o mestre). É fundamental para nossa teologia da Educação Religiosa  entender este princípio em seu sentido duplo.  Por  um lado, para que o aluno possa vir a ser como  seu mestre,  deve  ter  a  oportunidade de conhecê-lo bem,  num relacionamento interpessoal, estreito, no contexto da comunidade de fé e em sua extensão ao mundo. A igreja terá de criar circunstâncias, ambiente e motivação para incentivar o aluno em sua peregrinação rumo ao alvo de tornar-se como seu mestre. Naturalmente, todos nós aspiramos vir a ser como o Mestre, Jesus Cristo. Mas, em Lc 6.40, Jesus está falando também de mestres terrenos. Quando Paulo discipulava Timóteo, ele próprio, Paulo, embora seguidor de Cristo, deu a Timóteo o exemplo para sua formação na fé e no ministério. Paulo exortava e motivava Timóteo, constantemente, no sentido de observar seu exemplo pessoal e por este aprender.

Esta luta contínua por parte do aluno indica, como conseqüência natural, o outro sentido do princípio do discipulado. E que o mestre deve ser um exemplo digno de ser seguido. Nossa teologia da Educação Religiosa deve incluir a compreensão de que, se buscarmos na Bíblia os preceitos sobre os quais basearemos nosso ensinamento, vamos verificar que o mestre cristão tem a responsabilidade de ensinar seus alunos a seguir seu próprio exemplo como cristão. "Muito da educação consiste em ajudar as pessoas a saberem o que os seus mestres sabem. A Educação Religiosa consiste em ajudar as pessoas a ser o que seus mestres são" (Lawrence O Richards).

Se nosso propósito na igreja como educadores cristãos, seja como pastores, seja como mestres, ou em outra qualquer função, é levar as pessoas a serem como nós somos, que grande parâmetro, este, para o nosso próprio andar no Senhor! A igreja que levar a sério tal princípio, como parte de sua teologia da educação, estará atingindo uma profundidade em suas atividades educacionais que se aproxima do padrão que Jesus deixou para a igreja. E um padrão de santidade em que aquele que ensina compartilha santidade com outros na comunidade de fé, através do intercâmbio de idéias, conhecimentos e compreensões, que obteve pela experiência de viver na Palavra e em viver a Palavra. A igreja que cumpre sua função educacional dessa maneira supera a mentalidade de que a educação se faz somente aos domingos de manhã.

e. Organização - Alguns cristãos evangélicos acham que não há necessidade de um programa educacional organizado. Mas, se uma teologia da Educação Religiosa não incluir a necessidade de organização ou sistematização, teríamos que suprimir algumas passagens bíblicas, como Efésios 4.12, por exemplo: "Tendo em vista o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo; até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, ao estado de homem feito, à medida da estatura da plenitude de Cristo; para que não mais sejamos meninos, inconstantes, levados ao redor por todo vento de doutrina, pela fraudulência dos homens, pela astúcia tendente à maquinação do erro;  antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo".

Sabemos, por experiência, que, quando algo é organizado, a probabilidade de êxito é maior. Isso é verdade no mundo comercial, é uma norma pedagógica, e o próprio Deus providenciou um sistema organizado para o funcionamento da igreja.

Se o princípio de organização é bíblico, não temos que lutar contra ele. Devemos usar a organização como meio de tornar mais fácil e eficiente a função educacional da igreja. A organização, de nenhuma forma, substitui a obra do Espírito Santo em mudar as atitudes e influenciar os pensamentos dos homens. Além disso, o Espírito Santo nos toca mais facilmente quando tudo está em ordem e nosso espírito e mente não ficam distraídos pela desordem que prevalece em nossa vida. Deixemos que a organização desempenhe seu papel na instrução do povo de Deus e permitamos que o Espírito Santo use a organização como veículo através do qual nos possa ensinar.

 (Extraído com permissão do Módulo: Educação Religiosa I (Bases e Fundamentos da Educação Religiosa) -  STEID – Seminário Teológico Evangélico Internacional a Distância)

EU NÃO SOU CARISMÁTICO


A geração de hoje  não está disposta a ser confrontada com as verdades da Palavra de Deus!

Como professor da rede estadual de ensino, tenho observado o grave problema que é o aumento vertiginoso da criminalidade ligada ao tráfico de drogas. Este assunto é tema recorrente nas conversas com colegas. Recentemente ouvi de uma professora diversos relatos sobre alunos que foram cooptados pelos traficantes. Como pastor de uma igreja batista localizada em uma bairro carente,  também tenho visto este problema de perto.    Esta é uma triste realidade que assola nosso país, com um número assustador de adolescentes e jovens sendo levados ao vício, à dependência das drogas, à delinqüência e à criminalidade. Esta ação maligna é tão  eficiente que por vezes pode nos deixar paralisados. Como devemos agir? Devemos falar para os adolescentes e jovens com toda dureza sobre o perigo das drogas ou não chamar muita atenção sobre isto e tentar atraí-los para as atividades religiosas e lúdicas da igreja, esperando que eles se encantem com o Evangelho? É realmente uma tarefa árdua! Os traficantes atraem os jovens com muitos convites tentadores e promessas de status social e bens materiais,  como tenho ouvido em conversas com muitos rapazes da escola e da comunidade. Todavia, em algumas conversas algo tem me chamado à atenção: os elogios à  capacidade que os traficantes têm para atrair e convencer adolescentes e jovens. De fato, logo nos primeiros contatos, eles são polidos, bem educados e corteses.  Conforme alguns, a forma como eles falam, como dizem as coisas, é muito bonita, tornando-os carismáticos nas comunidades que dominam. O que me preocupa é que tais observações partem de uma lógica perversa que leva à valorização de uma prática que deve ser abominada. Eles, os traficantes, são carismáticos? Ora, este tipo de carisma que eles têm, eu não quero ter. E também não faço louvação à vivacidade ludibriosa, à operação do erro destes malfeitores.  Pois sei que temos a mensagem do Evangelho, que é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crer (Romanos 1: 16). Sei também que a Igreja de Jesus Cristo tem um poder tal que as portas do inferno não prevalecem contra ela (Mateus 16. 18).  Temos a VERDADE e a anunciamos no poder de Deus com honestidade e singeleza de coração; e não com táticas humanas como a lábia, a astúcia, a loquacidade ilusória ou esperteza sedutora. 

Estas reflexões fazem-me pensar sobre um dos jargões mais repetidos da atualidade e que se refere à estratégia de como se falar aos adolescentes e jovens. Consequentemente está relacionado com a forma como os adolescentes e jovens querem que lhes falem. Este jargão, um dos mais repetidos dos nossos dias é: “O importante não é o que se diz; mas como se diz.” Ótimo! Aparentemente é uma verdade incontestável!  De fato, a forma como os assuntos são tratados, a maneira como se diz as coisas são fundamentais para que elas sejam aceitas. Contudo, nestes tempos de pós-modernidade, quando nesta sociedade corrompida e perversa (Filipenses 2. 15), o Evangelho deixou de ser uma verdade absoluta e tornou-se uma idiossincrasia entre tantas outras, as pessoas passaram a valorizar mais a estética da palavra do que o seu conteúdo; e isto tem levado muitos a ledos enganos. Antes, mesmo os ímpios na sua impiedade, temiam as verdades da Palavra de Deus e reconheciam que estavam errados. Porém, depois que a lei da relatividade penetrou o campo da moralidade, a chamada sociedade judaico-cristã-ocidental mergulhou na mais torpe inversão de valores, cumprindo-se o que disse o profeta Isaías: Ai dos que ao mal chamam bem e ao bem, mal! Que fazem da escuridão luz, e da luz, escuridão.” - (Is 5:20). E nesta situação devemos pensar se o importante mesmo é a forma como se diz. Esta questão está diretamente ligada ao conceito de verdade.

Temos a VERDADE e a anunciamos no poder de Deus com honestidade e  singeleza de coração; e não com táticas humanas como a lábia, a astúcia, a loquacidade ilusória ou esperteza sedutora.

Em um dos momentos cruciais da vida de Jesus, quando Ele estava sendo julgado e sabia que seria condenado à morte, o governador romano da Judéia,  Pôncio Pilatos lhe fez esta pergunta: O QUE É A VERDADE?  (João 18. 38). Ora, esta pergunta reflete a ânsia, ou pelo menos a curiosidade, de todos os seres humanos desde Adão até os nossos dias. E sem dúvida, nunca se teve tantas incertezas em relação à resposta para esta interrogação do que nos dias atuais. Isto por que o mundo chegou a uma situação na qual não há interesse por uma resposta verdadeira para a pergunta de Pilatos. E quando coloco quase que explicitamente esta redundância, resposta para se conhecer a verdade verdadeira, faço de maneira intencional. Para mostrar a triste ironia de que o mundo não está em busca de uma verdadeira resposta para a pergunta acima. O mundo quer construir uma verdade fácil; aliás, inúmeras fáceis verdades.

Como Igreja de Jesus Cristo, temos obrigação de pregar a verdade do Evangelho. Entretanto, esta missão tem se tornado  espinhosa. Vivemos em uma sociedade muito sensível, em que temos que nos comunicar com muita cautela e sempre falar o que é  politicamente correto. Aliás, tenho visto pais evangélicos cheios de melindres e enchendo seus filhos de melindres no trato com o mundo. E que eles me perdoem por ter usado esta palavra tão feia: MUNDO!  É que estes pais evangélicos ensinam a seus filhos a nunca falarem na escola que evitam determinados comportamentos por que tais práticas são do MUNDO. Hoje temos uma geração de crianças e adolescentes de nossas igrejas que não usam a palavra PECADO, pois seus pais lhes ensinaram que nunca digam a seus amigos que não fazem isto ou aquilo por que é PECADO. Os pais têm medo que seus filhos sejam ridicularizados na escola, na turminha do condomínio, do bairro ou do centro de compras se usaram palavras como MUNDO ou PECADO. Os pais têm medo que seus filhos se tornem deficientes sociais e sejam rejeitados na patota de amigos.  Os próprios filhos já assimilaram este comportamento e esquivam-se de usar estes termos bíblicos, argumentando que fazem parte de um ultrapassado idioma evangeliquês. Esta geração de pais e filhos adolescentes, sobretudo nos grandes centros urbanos, quer mais é ser politicamente correta! E a ideologia do politicamente correto é a de que tudo deve ser aceitável de forma livre, leve e solta. Com isto, as verdades bíblicas vão sendo postas de lado.

Outra questão referente à construção da verdade, nesta era pós-moderna, é a supervalorização do chamado carisma, considerando o sentido que este termo tem no mundo atual.  Na Bíblia, o termo carisma é a tradução do verbo grego CHARIZOMAI e significa literalmente “mostrar favor para” ou “dizer ou fazer alguma coisa agradável a alguém”.  Refere-se a um dom especial concedido por Deus para ser usado em benefício do próximo, seja em atos ou na transmissão de Sua Palavra.  Neste sentido, o carisma é uma concessão da graça de Deus e ser carismático é estar revestido do poder de Deus. Aliás, neste sentido, peço a Deus todos os dias para ser carismático. Todavia, nestes tempos modernos, carisma passou a ser sinônimo de influência, fascinação, sedução e artimanha. A sociedade atual, sobretudo através da mídia, valoriza aqueles que são “carismáticos”, contagiantes, envolventes e capazes de vender ilusões. E o pior: vender mentiras!  E é aí que está o perigo! O perigo da falácia, do sofisma e do engodo. E então,  a forma como se diz passa a ter prevalência sobre o que se diz.

Quando a forma como se diz passa a ser mais importante, o processo de construção da verdade é alterado. E o pior, é adulterado! E neste “mundo que jaz no maligno” (I João 5. 19), a  VERDADE de Deus é suplantada pelas inúmeras verdades dos homens.  Para Deus, a sua VERDADE, deve ser entendida “não por força, nem por violência, mas pelo meu Espírito” (Zacarias 4: 6). E o trabalhar de Deus para que o homem entenda seus propósitos e Sua VERDADE não está nas formas espetaculares como um vento impetuoso, um terremoto ou um fogo. Está na forma branda como um cicio tranqüilo e suave (I Reis 19. 11, 12).  Ele quer que o ser humano atenda à Sua voz de maneira consciente e reflexiva. Em Apocalipse 3: 20 lemos:  “Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele, comigo.” A Palavra de Deus é poderosa e  incisiva, mas o homem deve se dispor a ouvir e refletir para  entendê-la. E creio firmemente que quando o ser humano ouve e reflete, os resultados positivos aparecem.  Por que, diz o Senhor,  que a Sua Palavra “não voltará para mim vazia, antes fará o que me apraz, e prosperará naquilo para que a enviei” (Isaías 55.11). E em Hebreus 4. 12 lemos: “Porque a palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração”.  Aliás, neste versículo está o termo chave para que o homem entenda seguramente o que Deus quer para sua vida através da Palavra: discernir.

Quando falo a Palavra de Deus para alguém ou prego no púlpito, espero que os meus ouvintes reflitam sobre a mensagem que estou lhes passando e venham a discernir sobre os propósitos de Deus para as suas vidas. Deus chama o ser humano à responsabilidade diante de sua Palavra: “Os céus e a terra tomo, hoje, por testemunhas contra ti, que te propus a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe, pois, a vida, para que vivas, tu e a tua descendência” (Deuteronômio 30: 19). No Livro de Provérbios 1: 20-23 Deus confronta os homens com o chamado da Sabedoria: “A suprema Sabedoria altissonantemente clama de fora; pelas ruas levanta a sua voz. Nas encruzilhadas, no meio dos tumultos, clama; às entradas das portas e na cidade profere as suas palavras: Até quando, ó néscios, amareis a necedade? E vós, escarnecedores, desejareis o escárnio? E vós, loucos, aborrecereis o conhecimento? Convertei-vos pela minha repreensão; eis que abundantemente derramarei sobre vós meu espírito e vos farei saber as minhas palavras.”  O próprio Senhor Jesus Cristo não preocupou-se em agradar às multidões. Ele queria compromisso verdadeiro e confrontava as pessoas com palavras que eram espírito e vida, mesmo que seu discurso fosse considerado duro. No Evangelho de João 6. 60-69 lemos:  “Muitos dos seus discípulos, tendo ouvido tais palavras, disseram: Duro é este discurso; quem o pode ouvir? Mas Jesus, sabendo por si mesmo que eles murmuravam a respeito de suas palavras, interpelou-os: Isto vos escandaliza? Que será, pois, se virdes o Filho do Homem subir para o lugar onde primeiro estava? O espírito é o que vivifica; a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos tenho dito são espírito e são vida. Contudo, há descrentes entre vós. Pois Jesus sabia, desde o princípio, quais eram os que não criam e quem o havia de trair. E prosseguiu: Por causa disto, é que vos tenho dito: ninguém poderá vir a mim, se, pelo Pai, não lhe for concedido. À vista disso, muitos dos seus discípulos o abandonaram e já não andavam com ele. Então, perguntou Jesus aos doze: Porventura, quereis também vós outros retirar-vos? Respondeu-lhe Simão Pedro: Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras da vida eterna; e nós temos crido e conhecido que tu és o Cristo, o Filho do Deus vivente.”

Contudo, esta geração não está disposta a ser confrontada com as verdades da Palavra de Deus. Poucos são os que admitem a repreensão. Vivemos um tempo no qual ninguém suporta uma palavra dura; ninguém tolera a severidade. E então, muitos pregadores começam a pregar o Evangelho como se fossem vendedores. Usam técnicas de marketing, como se a Palavra de Deus fosse mercadoria. Imitam palestrantes de auto-ajuda e gesticulam como os especialistas em desenvolvimento motivacional, que são contratados por empresas para falarem aos seus funcionários, com o intuito de melhorarem as relações corporativas e o ambiente organizacional, para gerar aumento de produtividade e vendas. Estes profissionais usam e abusam das piadas bem engendradas para fazerem as platéias rirem;  utilizam técnicas de argumentação com tanta maestria, a tal ponto de conseguirem fazer da sistematização do óbvio algo como a maior descoberta de todos os tempos; e empregam linhas de raciocínio eivadas de sofismas de tal forma que parecem irrefutáveis. Ora, é claro que do ponto de vista empresarial, estas técnicas espetaculares de seduzir mentes e corações são importantes ferramentas para estimular e motivar funcionários, levando-os até os limites máximos da eficiência e eficácia para o crescimento da empresa.  Estes profissionais da motivação explosiva desencadeiam um processo de entusiasmo nas equipes que participam destas palestras e treinamentos, fazendo com que os empregados, atualmente chamados de colaboradores, vistam a camisa da empresa. Aliás, a camisa, a calça comprida ou saia, o boné, o broche e tudo mais que tiver. Tudo isto é necessário para a empresa tornar-se agressiva e competitiva em um mercado cada vez mais exigente. Todavia, o Evangelho não é uma mercadoria e a Igreja não é uma empresa. Por isto, a pregação da Palavra de Deus não deve ser uma imitação barata das práticas de convencimento deste mundo.

Contudo, esta geração não está disposta a ser confrontada com as verdades da Palavra de Deus. Poucos são os que admitem a repreensão. Vivemos um tempo no qual ninguém suporta uma palavra dura; ninguém tolera a severidade.

Volto agora ao verbo que destaquei no final do sexto e início do sétimo parágrafos: discernir. O Evangelho de Jesus Cristo é a mensagem singela e poderosa do coração grandioso de Deus para o coração do homem simples. E então, todos os homens, mesmo os mais poderosos, devem se tornar simples para entenderem o que Deus tem a dizer. Não se pode falar da mensagem da Cruz de Cristo com técnicas de convencimento. As verdades produzidas por este mundo são aceitas pelo convencimento. Mas, a VERDADE de Deus é aceita livremente pelo pecador após um processo de discernimento produzido pelo Espírito Santo. Quando o homem deixa o Espírito Santo abrir sua mente e discerne bem a mensagem, ele compreende com clareza e lucidez os propósitos de Deus em sua vida. Em Provérbios 2: 11 a Bíblia diz: “O bom siso te guardará e o discernimento te conservará”. Entretanto, os homens faltos de entendimento “seguem veredas tortuosas e se desviam nos seus caminhos” – Provérbios 2: 15. E quando o homem aceita o Evangelho a partir de um convencimento produzido pelas emoções, fruto de técnicas de evangelização sensacionalistas e baseadas na lógica humana, é como a semente que caiu à  beira do caminho e foi comida pelas aves; ou caiu em solo rochoso, nasceu sem raízes profundas e logo foi queimada pelo sol; ou caiu entre espinhos e foi sufocada (Mateus 13: 4-7). Quanto prego no púlpito ou falo da Palavra de Deus para um grupo de pessoas ou mesmo uma só pessoa, espero que a semente caia em boa terra e produza verdadeiros frutos (Mateus 13: 8). A semente deve cair em boa terra e criar raízes a partir do verdadeiro discernimento, para que quando vierem as chuvas, os rios transbordarem e ventos fortes derem com ímpeto, a casa possa ficar bem firmada (Mateus 9: 27).  

Discernimento. Este é o princípio básico para a compreensão do Evangelho. É por isto que considero que o que se diz é muito mais importante do que a forma como se diz. Às vezes sou acusado de não ser carismático. De fato, considerando este modelo atual de “homem carismático”, modelo criado pelos meios de comunicação de massa e sacramentado pela pós-modernidade, desde a alta sociedade até o submundo do crime, eu não sou carismático. É claro que devemos ter simpatia, cortesia e amabilidade no trato com os outros, sejam irmãos na fé ou incrédulos.  Mas isto está muito distante do carisma pastoso que existe por aí. Não elogio e muito menos não invejo a capacidade que os filhos das trevas têm para enganar os incautos com falácias, promessas e engodos. Quando os vendedores de ilusões enganam multidões, seja na política ou outra atividade humana, ou quando traficantes convencem adolescentes, jovens e até mesmo adultos a entrarem no mundo das drogas, estão fazendo o que lhes é natural. E infelizmente,  os que dão ouvidos às suas palavras, ignorando a Palavra de Deus, caem em terríveis armadilhas. Na Segunda Carta aos Tessalonicenses 2: 11, 12, Paulo escreveu o seguinte: “É por este motivo, pois, que Deus lhes manda a operação do erro, para darem crédito à mentira, a fim de serem julgados todos quantos não deram crédito à verdade; antes, pelo contrário, deleitaram-se com a injustiça.” Não preciso de lábia para enganar ninguém, de astúcia para convencer, de loquacidade para iludir, de esperteza para seduzir. Lamento quando vejo crentes em Jesus Cristo fazerem apologia a esta aparente “virtude” usada pelos filhos das trevas para desvirtuar muitos dos caminhos do Senhor. Sei que a sedução deste mundo é quase irresistível, pois “as águas roubadas são doces, e o pão comido às ocultas é suave”  (Provérbios 9: 17). “Mas não sabe que ali estão os mortos; que os seus convidados estão nas profundezas do inferno”;  (Provérbios 9: 18). E também “há caminho, que parece direito ao homem, mas o seu fim são os caminhos da morte”; (Provérbios 16: 25).  Morte! Profundezas do inferno! É para lá que leva a lábia, a astúcia, a loquacidade e a esperteza daqueles que usam e abusam da arte de convencer e recebem o glamour deste mundo, e às vezes, até mesmo de cristãos desavisados.      
 
Nós como cristão, não somos pregadores de mentiras e sim da VERDADE. Pregamos o Evangelho com a transparência que esclarece, a firmeza que confronta, a autenticidade que legitima, o poder que quebranta corações;  pois esta mensagem é a VERDADE QUE LIBERTA (João 8: 32)   Na Primeira Carta de Paulo aos Tessaloniceses 2: 3-5 lemos: “Pois a nossa exortação não procede de engano, nem de impureza, nem se baseia em dolo;   pelo contrário, visto que fomos aprovados por Deus, a ponto de nos confiar ele o Evangelho, assim falamos, não para que agrademos a homens, e sim a Deus, que prova o nosso coração.  A verdade é que nunca usamos de linguagem de bajulação, como sabeis, nem de intuitos gananciosos. Deus disto é testemunha.”

Como pastor e como professor tenho falado  para adolescentes e jovens sobre os perigos das drogas, mostrando com firmeza que este é o caminho largo, mas é o caminho que leva a perdição. Aliás, não apenas as drogas, mas tudo que é deste mundo leva ao inferno; enquanto a porta estreita e o caminho apertado são os que levam à vida eterna  (Mateus 7: 13 14). Muitas vezes, quando necessário, uso palavras duras apontando a necessidade que o ser humano tem de negar a si mesmo, tomar a sua cruz e seguir a Cristo (Marcos 8: 34). E faço isto com toda a transparência, firmeza, autenticidade, honestidade e singeleza de coração.  Pois, não quero usar de lábia, astúcia, loquacidade, esperteza e artimanha. Não uso estes instrumentos de engodo, enganação e falácia. Neste sentido, eu não sou carismático.

Marinaldo Lima
Pastor da Igreja Batista em Sítio Novo – Olinda, PE. 
Formado em Administração pela UFPE, em Teologia pelo STBNB e História pela UFRPE.  Pós-Graduação em Ensino de História das Artes e Religiões. 
É professor de História, Geografia, Artes e Ética e Cidadania da Escola Estadual N. Sª do Carmo em Beberibe, PE