domingo, 25 de novembro de 2012

OS BENEFÍCIOS DA EDUCAÇÃO RELIGIOSA


         Para a compreensão dos benefícios a serem obtidos da Educação Religiosa pela igreja, é necessária uma compreensão das potencialidades do ser humano que está envolvido na sua docência e na sua discência. Não é demais repetir que vivemos num mundo secularizado, maquinizado e despersonalizador.

No entanto, a igreja vive, pensa e age noutra esfera, ela tem um objetivo espiritual, busca a vontade de Deus e o reconhecimento do ser individual. É de grande inspiração para o servo de Deus ler na Sagrada Escritura: "... eu te chamo pelo teu nome; ponho-te o teu sobrenome", "não temas, porque eu te remi; chamei-te pelo teu nome, tu és meu", e ainda, sobre Jesus Cristo: "as ovelhas ouvem a sua voz; e ele chama pelo nome as suas ovelhas" (Isaias 45.4b; 43.1b; João 10.3b). É a personalização do povo de Deus, coisa não muito acentuada no contexto secularizado em que trabalhamos, estudamos e vivemos, quando se é apenas o número do CIC, do RG, ou da Conta Bancária, e que há de ser ênfase na Igreja de Cristo.

O ser humano é imagem e semelhança do Criador, e confiado lhe foi gerenciar este mundo para revitalizá-lo e fazê-lo produzir, sem agressões ao meio ambiente. É um ser de possibilidades: cresce, adapta-se, pensa, reflete, cria, transforma, molda, age e interage. A esse ser pleno de possibilidades, a igreja repassa os benefícios da Educação Religiosa.

            O papel do educador cristão está em orientar este ser humano para a vida em Cristo, guiando-o à maturidade espiritual. A afirmação de Paulo, "para mim o viver é Cristo" (Fp 1.21), passa a ser programa de vida, verdade de conduta, vida de fé. Naturalmente, o principal agente da Educação Religiosa se torna a igreja local, por ser um grupo de crescimento, e porque alguns crentes em Cristo não vêem nem têm seus lares na piedade cristã.

Houve um tempo em que a igreja era uma comunidade corajosa e revolucionária, que estava mudando o curso da história pela introdução de idéias discordantes; hoje é um lugar aonde se vai e onde se senta em bancos confortáveis, esperando pacientemente a hora de ir para casa para o almoço do domingo.

            Isso porque já se chegou à conclusão de que tem havido pouco interesse no estudo bíblico, e assim são poucos os membros da igreja afeitos à leitura profunda ou ao estudo sistemático da Palavra de Deus.

            Por outro lado, em geral as organizações estão em crise, sendo ainda um pouco difícil encontrar professores consagrados e dispostos a dedicar tempo ao preparo de suas aulas e ao contato pessoal e extraclasse com os alunos. Isso, entretanto, há de ser feito, por amor do próprio universo abrangido pela Educação Religiosa (Jo 2.12-14).

Ora, crentes em Cristo têm os pecados "perdoados por amor do seu nome" (v. 12), conhecem o Pai e "aquele que é desde o princípio"(vv. 14a, 13a), já venceram o Maligno (v. 13b), são fortes e retêm a palavra de Deus (v. 14b). Com vistas a esses, a recomendação expressa do Senhor, "ensinando-os a observar todas as coisas que eu vos tenho mandado" (Mt 28.20a); e é por isso que "perseveravam na doutrina dos apóstolos" (At 2.42a).

1. Primeiros Benefícios

            Na Igreja-dos-primeiros-dias, quatro atividades de Educação Cristã se destacavam. É bom conferir em Atos 2.41-47; 5.42.

a. Culto

             A primeira dessas atividades - o Culto. Efésios 5.19-21 e Colossenses 3.16b são claros em apresentar os elementos que compõem o culto cristão: os hinos de louvor, as orações, a proclamação, o ensino e o serviço. A adoração há de ser pessoal (Romanos 12.1) e coletiva (Êxodo 12.26). Na adoração reconhecemos nossa indignidade, e o sacrifício redentor de Jesus Cristo; buscamos conhecer a vontade de Deus para poder servi-Lo com todas as veras do nosso espírito. Na atividade de culto, o testemunho se faz atuante aos não-crentes, aos adversários, aos que têm impedimentos físicos, e isso por métodos os mais variados, pois o evangelho deve ser sempre atual, falando às pessoas quando e onde elas estão e como estão num testemunho relevante e inteligível, tomando-se cuidado com o que já foi chamado jocosamente de "linguagem de Canaã", o jargão religioso que o descrente pode não entender e não ter igualmente sentido para as crianças. Algo assim como: "entregue seu coração a Jesus" ("como é que eu faço para arrancar e dar a ele?" perguntou uma criança), "... você está perdido" (de quê?), "... você precisa ser salvo" (de quê?), e outros tantos.

Se o culto é o relacionamento consciente da congregação com Deus, quem o cria e o faz de modo consciente é a Educação Religiosa.

O testemunho deve começar com o ser humano como imagem de Deus. Esse é um ensino repassado pela Escritura (Gênesis 1.26; Efésios 4.24; 1Coríntios 11.7). Deve-se falar da queda e do pecado, e enfatizar a libertação da vida de pecado e a nova vida em Cristo. Afinal, a Educação Religiosa ressalta que no culto estamos como uma coletividade de pecadores salvos que confessam seu pecado e recebem o perdão trazido por Cristo. Ensina-se que culto é ação: da parte de Deus, que nos agracia com bênçãos escolhidas por causa de nosso ato de fé, e de nossa parte, que lhe obedecemos porque nele confiamos.

            A experiência de estar com a congregação em culto é pedagógica, porque temos uma experiência viva do povo de Deus na história; crianças, jovens e adultos se vêem como membros da mesma comunidade que cultua. É preciso crer na família que adora a Deus, unida quando cada culto se torna uma experiência de adoração e educação.

b. A Comunhão

            Cantamos dizendo uma verdade bíblica: "benditos laços são os do fraterno amor", porque Jesus Cristo é o filtro de nossos relacionamentos. Assim, nas relações conjugais, familiares, de trabalho, sociais ou eclesiásticas, é o que deve ocorrer. Em tudo, Cristo é o parâmetro, o meio de aferição e o elo de união. Devemos atestar com declarações como as encontradas em Efésios 5.22,25; 6:1,4,5,9, pois "tende em vós aquele sentimento que houve também em Cristo Jesus" (Fl 2.5), visto que nossa comunhão está marcada pelo seu sangue (1Jo 1.6,7).

            No Novo Testamento, o sentido de comunhão não era café-com-bolinhos, e sim o sentido de Atos 4.32,34,35.”Da multidão dos que criam, era um só o coração e uma só a alma, e ninguém dizia que coisa alguma das que possuía era sua própria, mas todas as coisas lhes eram comuns.Com grande poder os apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus, e em todos eles havia abundante graça.Pois não havia entre eles necessitado algum; porque todos os que possuíam terras ou casas, vendendo-as, traziam o preço do que vendiam e o depositavam aos pés dos apóstolos.E se repartia a qualquer um que tivesse necessidade.Então José, cognominado pelos apóstolos Barnabé (que quer dizer, filho de consolação), levita, natural de Chipre”. O senso de pertencer, de ser-um-com-os-outros, de amar e ser amado é uma das mais extraordinárias experiências da vida cristã. “Nós amamos, porque ele nos amou primeiro. Se alguém diz: Eu amo a Deus, e odeia a seu irmão, é mentiroso. Pois quem não ama a seu irmão, ao qual viu, não pode amar a Deus, a quem não viu.E dele temos este mandamento, que quem ama a Deus ame também a seu irmão”. (1Jo 4.19-21). Assim, a Educação Religiosa nos dá o reconhecimento do nivelamento que o evangelho dá a pessoas de classes sociais, raças ou idades diferentes. Através da comunhão, relacionamentos quebrados são curados e fortalecidos. E isso não é sociabilidade, mas o reconhecimento de que pela graça somos salvos, alimentados pela educação na fé porque Cristo estabeleceu para a igreja o "ensinando a guardar".

c. A Capacitação

            O próximo passo é o do ensino, a capacitação e treinamento do povo de Deus para a missão divina. São os novos crentes, a liderança da igreja, os grupos especiais. Afinal, a igreja não lida com coisas, mas com pessoas, o que significa que sua tarefa é produzir gente de boa qualidade. Há registro de que o poeta W.H. Davies conversava com um garotinho e lhe teria perguntado:

 -"O que é que você vai ser quando crescer?" Naturalmente esperava que dissesse "bombeiro", "médico", ou outra profissão fascinante.

O menino respondeu: - "O que eu vou ser quando crescer?"  Pelo seu tom de voz, a pergunta de Davies parecia ter sido boba. E completou: - “Vou ser um homem grande!"  É mesmo!

O final do crescimento é ser adulto, e isso vale na vida cristã.

d. O Serviço

Nosso trabalho é produzir pessoas que saibam em que crêem, e que possam declarar sua fé no espírito de 1Pedro 3.15. Para que isso aconteça, haveremos de enfatizar o estudo sistemático, dialógico da Palavra Santa, ou seja, não dizer em que se deve crer, mas ajudá-los a descobrir por eles mesmos; que sejam pessoas de princípios justos e valores perfeitos; leais à Igreja de Jesus Cristo, à sua denominação, e à sua igreja local; seres humanos profundamente conscientes do seu papel no mundo, mostrando-lhe o que faz diferença na vida para eles expressa na simples expressão "em Cristo".

            A igreja de Jerusalém tinha uma expressão de Serviço. Que a igreja nunca seja condenada por sequer pensar: "... sou eu o guarda do meu irmão ?" (Gn 4.9b), porque a resposta será "Sim", à luz das advertências bíblicas. “Para que não haja divisão no corpo, mas que os membros tenham igual cuidado uns dos outros”(1Co 12.25). “Todos os que querem ostentar boa aparência na carne, esses vos obrigam a circuncidar-vos, somente para não serem perseguidos por causa da cruz de Cristo” (Gl 6.2). “Mas, se alguém não cuida dos seus, e especialmente dos da sua família, tem negado a fé, e é pior que um incrédulo” (1Tm 5.8). Cada crente em Jesus Cristo tem recursos para cuidar, zelar, fazer crescer como participante do Corpo de Cristo, com os dons que o Espírito Santo distribuiu soberanamente. “Ora, há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo. E há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo.  E há diversidade de operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos. A cada um, porém, é dada a manifestação do Espírito para o proveito comum. Porque a um, pelo Espírito, é dada a palavra da sabedoria; a outro, pelo mesmo Espírito, a palavra da ciência; a outro, pelo mesmo Espírito, a fé; a outro, pelo mesmo Espírito, os dons de curar; a outro a operação de milagres; a outro a profecia; a outro o dom de discernir espíritos; a outro a variedade de línguas; e a outro a interpretação de línguas. Mas um só e o mesmo Espírito opera todas estas coisas, distribuindo particularmente a cada um como quer” (1Co 12.6-11).

A Educação Religiosa, a educação na doutrina bíblica e na prática cristã, há de tornar compreendidos esses dons, ao tempo em que abrindo os olhos espirituais, capacita com o treinamento o crente. É aí que compreendemos que "sim, somos o guarda do nosso irmão!"

            Por aí se demonstra que o cuidado pastoral é responsabilidade de toda igreja como comunidade terapêutica liderada pelo seu pastor. Na profecia do Antigo Testamento está declarado que "como pastor ele apascentará o seu rebanho" (Is 40.11a); na ordem aos apóstolos: "pastoreia as minhas ovelhas"(Jo 21.16); na palavra aos pastores: "apascentai o rebanho de Deus, que está entre vós" (1Pe 5.2-4); e a todos os crentes: "... que os membros tenham igual cuidado uns dos outros" (1Co 12.25b). Cuidado pastoral é um encontro pessoal em amor e uma possibilidade para cada crente, pois há muita coisa que se faz como crente e não se percebe que é puro cuidado pastoral, como a visita de um crente a outro, que, mais que social é pastoral.

2. Mais Benefícios da Educação Religiosa

a. Promove uma consciência de Deus, como uma realidade na experiência humana, e um sentido de relacionamento pessoal com Ele.

b. Procura desenvolver esse entendimento e a apreciação da pessoa, da vida e dos ensinos de Jesus Cristo que leve o crente a ser leal ao Mestre e a sua causa, manifestando em seu dia-a-dia uma visão do mundo dominado pelo evangelho.

c. Interpreta a vida e o mundo do ponto de vista evangélico, vendo neles o propósito e o plano de Deus.

d. Desenvolve uma apreciação do significado e importância da família cristã, e se participa e contribui para a construção de famílias fortes que resultem em igrejas fortes.

e. Promove missões, cujo espírito não pode ser transmitido a outros a não ser por aqueles que o possuem.

f. Na educação para a liberdade, para o amor, para o senso cristão do acontecimento e para o amor pessoal de Jesus Cristo e por Jesus Cristo.

g. Para o entendimento da chamada de Abraão, de Moisés, de Isaías, de André e Simão, mas também a de Carlos, Ismael, Dulce, Jane Esther, Joaquim, Ronaldo, Francisco, Tomé; da compreensão até dos fracassos como meio de aprofundar a dependência de Deus.

Naturalmente os objetivos pra surtir os benefícios esperados precisam ser graduados, e, ao dividirmos os grupos de acordo com a faixa etária, estamos dizendo que a compreensão cristã depende principalmente da idade da pessoa atendida. Compreende-se, no entanto, a possibilidade de alternativas, como a divisão de atividades por centros de interesse a partir dos adolescentes, quando estes, mais os jovens e os adultos se reuniriam em torno de um centro de atenção para um estudo ou prática inter-etária (evangelismo, música, capacitação da liderança, etc.). Os referidos centros de interesse devem funcionar concomitantemente. Daí, já se chega a mais um benefício que é a realimentação (feedback) do sistema eclesiástico pela interação de seus membros, visto que a igreja deve ser olhada e analisada através de uma visão sistêmica. Nessa comunidade de participação, crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos, mulheres e homens, portadores de necessidades especiais, ovelhas e pastores, solteiros e casados, cada um enriquece o outro e aprende a participar da criação e manutenção de uma igreja mais humana, mais próximo do Espírito de Jesus Cristo e mais libertadora.
           
Então, um benefício certo é a "opção pelo serviço", no qual a fé ativará a inteligência, a esperança animará a vida afetiva, e o amor essencializará a vontade, pois não explicitou Paulo que"todas as vossas obras sejam feitas em amor" (1Co 16.14)? E"de muito boa vontade gastarei, e me deixarei gastar pelas vossas almas" (2Co 12.15a)? Tudo isso num senso crescente do Deus Vivo, do apoiar-se em Deus, do Deus-em-nosso-meio, do Emanuel!

O que quer que aconteça na igreja é pedagógico, e essa ação pedagógica há de ajudar o crente a pensar e guiá-lo a uma perspectiva diferente de si, dos outros, dos horizontes. Embora a fé se tenha tornado difícil neste mundo de pensamento lógico e materializado, nosso povo anseia pela vida de fé com Deus, e aí reside o propósito central da educação religiosa cristã: ser um fator de participação e de liderança de mudanças nos envolvimentos do ser humano em suas inter-relações. A igreja, por isso, deve se tornar um centro de convivência, ou, no dizer de Miller:


"A igreja local é onde nos tornamos conscientes do começo de nosso sustento na vida cristã" .

                                         
            Para benefícios ainda maiores, devemos dar ênfase plena à lealdade à igreja onde somos membros, onde havemos de crescer  de nos alegrar, chorar, e, nessa era de ignorância da Palavra de Deus, de incerteza do dia seguinte, de pessimismo diante das coisas, de temor do futuro, o crente em Cristo continuará a receber os vitalizadores benefícios da orientação segura, existencialmente correta da Escritura Sagrada na Educação Religiosa.

 Profa. Jane Esther Monteiro de Souza de Paula Rosa
(Coordenadora do DER)

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