Há muito tempo ouço dentro e fora do
Seminário a pergunta: Por que estudar teologia?
Cada vez que ouço essa pergunta, mais me convenço de que “nunca na
história da Igreja cristã” foi tão necessário o estudo da teologia. Não para aprender a responder perguntas sobre
“qual o sexo dos anjos?” ou “quem foi a esposa de Caim?”, mas para entender as
questões básicas da fé cristã que, neste
século vinte e um, tem sido cada vez mais adulterada justamente por aqueles que
deveriam ser os maiores divulgadores e defensores da fé cristã e da Palavra de
Deus, os LÍDERES ECLESIÁSTICOS.
Obviamente que toda generalização é estupidez, mas o quadro que vemos da
Igreja cristã evangélica de nosso século é assustador. Líderes despreparados, pastores, presbíteros,
bispos, missionários, apóstolos, etc distorcendo completamente a Palavra de
Deus a fim de obterem “resultados” rápidos e extraordinários (aumento do número
de seguidores e de arrecadação).
Não é sem propósito que em Oséias
4:6 o Senhor diz: “o meu povo erra por
falta de conhecimento”. E também não
é por acaso que em Mateus 22:29 vemos Jesus
afirmando: “Errais,
não conhecendo as Escrituras, nem o poder de Deus...”. No século da
internet de alta velocidade, da comunicação instantânea, o crente não encontra
tempo e nem tem paciência para ler a Bíblia, e boa parte dos líderes
eclesiásticos também não, e o resultado tem sido a expansão das pregações e
ensinamentos cada vez mais distantes das verdades reveladas na Palavra de Deus.
Na esteira dessa
falta de interesse, tempo ou paciência para o estudo sério e sistemático da
Palavra de Deus, cresce cada vez mais o nível de desconhecimento bíblico entre
os crentes. O conhecimento bíblico do
povo tem sido obtido não através da leitura e estudo da Bíblia, mas por
transferência oral de informações baseadas em imagens criadas que acabam se
tornando “verdades”, muito embora essas “verdades” estejam bem longe da
realidade. Por exemplo, costumo fazer uma
brincadeira com meus alunos no curso de teologia quando ministro a disciplina
Panorama Bíblico (Antigo Testamento).
Pergunto, antes de ler qualquer texto bíblico, quantos anos levou para o
povo de Israel chegar em Canaã após sua saída do Egito. Quase que unanimentemente ouço a resposta:
“- Quarenta anos!”.
O
conhecimento bíblico do povo tem sido obtido não através da leitura e estudo da
Bíblia, mas por transferência oral de informações baseadas em imagens criadas
que acabam se tornando “verdades”, muito embora essas “verdades” estejam bem longe
da realidade
Quando eu digo que
a resposta está errada, que esta informação foi criada no imaginário
cristão, o espanto é quase que
geral. Então eu peço que leiam Êxodo
19:1-2 que diz: “Os israelitas partiram
de Refidim. E, no dia primeiro do terceiro mês depois de terem saído do
Egito, chegaram ao deserto do Sinai. Eles armaram o acampamento ao pé do monte
Sinai”(NTLH). Ou seja, dois meses
após terem saido do Egito armaram acampamento no pé do monte Sinai. Então peço que leiam Números 10:11-13: “No segundo ano depois que o povo saiu do
Egito, no dia vinte do segundo mês, a nuvem se levantou de cima da Tenda
Sagrada. Nesse dia os israelitas começaram a caminhar, partindo assim do
deserto do Sinai; e a nuvem parou no deserto de Parã. Assim, pela primeira vez,
eles começaram a caminhar, conforme a ordem que o Senhor tinha dado a Moisés”
(NTLH). Ou seja, após um ano e vinte
dias acampados no pé do monte sinai, ou quatorze meses e vinte dias após a
saída do Egito, os israelitas levantam acampamento e se dirigem rumo a
Canaã, acampando no deserto de Parã, em
Cades Barnea, na entrada de Canaã, a Terra prometida (Números 13:3 e 25).
Embora a pergunta
aos alunos seja uma “pegadinha”, pois não pergunto quanto tempo eles levaram
para entrar em Canaã, mas para chegar lá, o fato é que boa parte deles imagina
que Israel ficou perdido no deserto, sem rumo, durante quarenta anos, e somente
quarenta anos após a saída do Egito é que os israelitas encontraram a terra prometida,
e aí partiram para sua conquista. Pior
ainda foi o que ouvi certa ocasião de uma aluna; disse ela que ouviu em uma
pregação o pastor dizer que era tão longa a distância entre o Egito e Canaã que
Israel levou quarenta anos para chegar lá.
Da mesma
forma, causa surpresa em muitos alunos quando explico que Israel levou quarenta
anos para entrar em Canaã por causa do pecado de incredulidade de dez líderes
que influenciaram negativamente todo o povo, conforme registro de Números 13: “Mande alguns homens para espionar a terra de
Canaã, a terra que eu vou dar aos israelitas. Em cada tribo escolha um homem
que seja líder. Do deserto de Parã Moisés enviou os espiões, de acordo com as
ordens de Deus, o Senhor. Todos eram chefes de tribos do povo de Israel”(vv.2,3).
[...] “Depois de espionarem a terra
quarenta dias, eles voltaram a Cades, no deserto de Parã, onde estavam Moisés,
Arão e todo o povo de Israel. E contaram a eles e a todo o povo o que tinham
visto e mostraram as frutas que haviam trazido da terra” (vv 25 a 27). Mas apesar de terem conferido todas as
maravilhas da terra prometida, esses líderes se acovardaram diante das
dificuldades encontradas e levaram o povo a, por medo, se recusar a entrar em
Canaã: “Eles disseram a Moisés: – Nós
fomos até a terra aonde você nos enviou. De fato, ela é boa e rica, como se
pode ver por estas frutas. Mas os que moram lá são fortes, e as cidades são
muito grandes e têm muralhas. Além disso, vimos ali os descendentes dos
gigantes. Os amalequitas moram na região
sul da terra. Os heteus, os jebuseus e os amorreus moram nas montanhas. Os
cananeus vivem perto do mar Mediterrâneo e na beira do rio Jordão. Aí o povo começou a reclamar contra Moisés,
mas Calebe os fez calar e disse: – Vamos
atacar agora e conquistar a terra deles; nós somos fortes e vamos conseguir
isso! Porém os outros que tinham ido com
ele disseram: – Não. Não podemos atacar aquela gente, pois é mais forte do que
nós. Assim, espalharam notícias falsas
entre os israelitas a respeito da terra que haviam espionado. Eles disseram: –
Aquela terra não produz o suficiente nem para alimentar os seus moradores. E os
homens que vimos lá são muito altos. Também vimos ali gigantes, os descendentes
de Anaque. Perto deles nós nos sentíamos tão pequenos como gafanhotos; e, para
eles, também parecíamos gafanhotos” (Números 13:27-33 NTLH).
Tal atitude
por parte dos líderes e do povo de Israel motivou a seguinte decisão divina: “Vocês serão mortos, e os corpos de vocês
serão espalhados pelo deserto. Vocês reclamaram contra mim, e por isso nenhum
de vocês que tem vinte anos de idade ou mais entrará naquela terra. Eu jurei que os faria morar lá, mas nenhum de
vocês entrará naquela terra, a não ser Calebe, filho de Jefoné, e Josué, filho
de Num. Vocês disseram que os seus
filhos seriam presos, mas eu vou levar esses filhos para a terra que vocês
rejeitaram, e ali será o lar deles.
Porém vocês morrerão, e os corpos de vocês ficarão neste deserto, onde os seus filhos vão caminhar quarenta
anos. Vocês foram infiéis, e por isso eles vão sofrer, até que todos vocês
morram aqui. Quarenta anos vocês vão
sofrer por causa dos seus pecados, conforme os quarenta dias que vocês
espionaram a terra, um ano para cada dia...” (Números 14:29-34 NTLH).
De fato, Deus
impediu que aquela geração de vinte anos para cima entrasse em Canaã, exceto
Josué e Calebe, os dois únicos espias que tiveram a fé suficiente para herdar a
terra prometida. Assim, toda aquela
geração acima de vinte anos passaria os próximos trinta e oito anos no deserto
até que não restasse mais nenhum deles (Deuteronômio 2:13-16).
Por incrível que
pareça, há quatorze anos dando aulas no Seminário tenho feito sistematicamente
a mesma “pegadinha”, e tenho verificado que aumenta cada vez mais o número de alunos que se surpreendem
com “essas novas descobertas”.
A
ignorância sobre determinadas questões apresentadas na Palavra de Deus
certamente impede o indivíduo de enxergar a grandiosidade do plano de Deus para
o ser humano e o cuidado de Deus com os mínimos detalhes
É verdade que esse
desconhecimento pode não ter nenhuma influência no relacionamento do indivíduo
com Deus, mas a ignorância sobre determinadas questões apresentadas na Palavra
de Deus certamente impede o indivíduo de enxergar a grandiosidade do plano de Deus
para o ser humano e o cuidado de Deus com os mínimos detalhes. Talvez o exemplo mais emblemático disso seja
a imagem que muitos fazem de Jesus
sentado em uma carpintaria (ou marcenaria?) consertando algumas mesas e
cadeiras.
Assisti a um vídeo na internet outro
dia de um pregador defendendo a tese de que Jesus tinha uma casa de praia em
Cafarnaum. Segundo esse pregador, o dinheiro para comprar a tal casa ele havia
conseguido após herdar a carpintaria do pai aos doze anos e começar a entregar mesas e cadeiras em
prazos recordes, acabando com toda a concorrência. De acordo com ele, desde os doze anos Jesus
foi juntando, juntando, juntando dinheiro com o lucrativo negócio do milagre da
entrega rápida de mesas e cadeiras até conseguir dinheiro suficiente para
comprar sua tão sonhada casa de praia em Cafarnaum. A moral desta mensagem era a de que você
também tem o direito de ter uma casa de praia, e Deus tem a obrigação de te
dar.
A imagem de Jesus
trabalhando em uma carpintaria (ou marcennaria) foi construida, na
verdade, com base nos dois únicos
versículos da Bíblia que falam sobre isso :
Mateus 13:55 è Não é este o filho do carpinteiro?
Não se chama sua mãe Maria, e seus irmãos, Tiago, José, Simão e Judas?
Marcos 6:3 è Não é este o carpinteiro,
filho de Maria, irmão de Tiago, José, Judas e Simão? E não vivem aqui entre nós
suas irmãs? E escandalizavam-se nele.
Essa imagem de
Jesus tem levado as pessoas, alimentadas pelo cinema americano, a visualizar o Senhor Jesus numa marcenaria,
não numa carpintaria, consertando ou
construindo mesas, bancos e cadeiras.
Não há imagem mais pobre para descrever o projeto de Deus de enviar
Jesus, fazendo-o nascer no lar formado por Maria e José, o carpinteiro, do que
essa. Não que o Senhor Jesus não pudesse
ter consertado algumas cadeiras ou mesas, mas a escolha de José como pai
adotivo tendo ele a profissão que tinha, também fez parte do plano de Deus,
pois não foi apenas Maria a escolhida para ser a mãe do Salvador, José também
foi escolhido por Deus para ser o pai adotivo do Senhor.
A palavra grega
traduzida para o português como “carpinteiro” é
“tékton”, que significa também “construtor”. Na língua portuguesa há a palavra
“arquiteto”, que é aquele que desenha o projeto, o que planeja como ficará a obra
depois de pronta. O arquiteto
dimensiona, esquematiza e planeja a obra antes de sua construção. A palavra arquiteto é, justamente, a junção
das palavras gregas “arké” + “tékton”.
A primeira palavra, “arké”,
significa “maior”, “principal”, etc. Por exemplo, na língua portuguesa “arké” se tornou um prefixo que deu origem a palavras do tipo “arqui-inimigo”, ou seja, maior inimigo,
ou ainda “arcebispo”, bispo com autoridade maior sobre os outros bispos,
etc. Literalmente arquiteto é o “principal construtor” ou “construtor maior”.
Portanto, “tékton”
não é um fabricante ou consertador de mesas e cadeiras, não é um marceneiro, é
antes um construtor, o equivalente a uma espécie de “mestre de obras”. No plano de Deus, foi exatamente isto que
Jesus foi, o “tékton”, o construtor
que veio “colocar a mão na massa”, fazer o trabalho pesado, como um mestre de
obras, e o Pai é o Sábio “Arké-Tékton” (Arquiteto), o Construtor Maior, o que planejou a obra que
o Filho viria executar. Não é sem
propósito que o apóstolo Paulo diz que nós somos o “edifício de Deus” (I Coríntios 3:9). Assim, no extraordinário e perfeito plano de
salvação projetado por Deus, até a profissão de Jesus teve significado, não foi
algo aleatório e sem importância. Jesus
é o Construtor que veio construir algo tremendo, extraordinário, como bem
descreveu o apóstolo Paulo: “Sabemos que, se a nossa casa terrestre deste tabernáculo se desfizer,
temos da parte de Deus um edifício, casa não feita por mãos, eterna, nos céus.” (2 Coríntios 5.1).
É interessante observar que o conceito de Deus
como o “Grande Arquiteto do
Universo” tem sido empregado muitas vezes tanto dentro quanto fora da
teologia cristã. Eminentes teólogos cristãos do
passado como Tomás de Aquino e João Calvino utilizaram esta imagem para descrever o
Deus da criação. Em sua obra publicada
em 1536, “As Institutas da Religião
Cristã”, João Calvino chama repetidamente Deus de "O Arquiteto do
Universo". Fora da teologia cristã
também é muito comum encontrarmos tal
adjetivo para descrever Deus. Por
exemplo, na (seita) maçonaria todos os seus membros (ou sócios) têm que crer na
existência do “Grande Arquiteto do Universo”
como sendo uma força superior, criadora de tudo o que existe. No judaísmo, no islamismo e até no
gnosticismo Deus tem sido apresentado desta mesma forma: “O Grande Arquiteto do
Universo”.
No Novo Testamento, o autor de Hebreus, falando sobre a
fé de Abraão, diz que ele “aguardava
a cidade que tem fundamentos, da qual Deus é o arquiteto e edificador”
(Hebreus 11:10). De
fato, Deus é apresentado nas escrituras sagradas como “Arquiteto e
Edificador”. Contudo, a grande diferença
entre os ensinamentos bíblicos e os conceitos de Deus apresentados por outros
grupos reside no fato de que a Bíblia ao designar Deus como Arquiteto, não se
restringe apenas à criação. Na
realidade, em Hebreus, por exemplo, o autor usa de uma linguagem figurada para
falar da “Nova Jerusalém”, da “Jerusalém Celestial”. Deus é o arquiteto e edificador não somente
da Nova Jerusalém, mas também de um projeto, de um plano para conduzir Abraão e
“todas as famílias da terra” (Gênesis 12:3) à essa cidade celestial.
A Bíblia
apresenta Deus não apenas como o “Grande Arquiteto do Universo”, mas muito mais
do que isso, como o Grande Arquiteto da
nossa salvação
Ou seja, a Bíblia
apresenta Deus não apenas como o “Grande Arquiteto do Universo”, mas muito mais
do que isso, como o Grande Arquiteto da
nossa salvação. E este, talvez, seja um
dos ensinos mais extraordinários da Palavra de Deus, e menos compreendidos
pelos cristãos. O apóstolo Paulo falando
sobre esse assunto em sua carta ao Efésios capítulo 1, fala de um plano
arquitetado por Deus, elaborado antes mesmo da fundação do mundo. De acordo com Paulo, Deus,
em sua imensa sabedoria, fez um plano extraordinário que transcende em muito
nossa compreensão. Ele, como um sábio
arquiteto, planejou o que iria fazer
antes de iniciar qualquer obra da criação, e esse seu projeto teve como ápice e
objetivo final a criação de indivíduos inteligentes, livres, santos como ele, e
com quem pudesse se relacionar e ter comunhão,
e mesmo sabendo que esses indivíduos o
desobedeceriam trazendo como consequência a quebra dessa comunhão, Ele ainda
arquitetou um plano para a salvação desses indivíduos desobedientes, fazendo do Filho Unigênito Jesus o executor
desse plano. Portanto, Jesus não foi um
fabricante de mesas e cadeiras, mas foi e é, no plano do Pai, o Construtor (Tékton)
de nossa salvação.
Roberto Ramos da Silva
Graduado em
Teologia pelo STBSB e em Física pela UFSC. Mestre em Física de
Plasmas pelo Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA). Doutor em Física
Atômica e Molecular pela UFSC. Diretor e Professor de Teologia do Instituto
Batista de Educação, em Florianópolis, SC.
Fundador e
Presidente do Núcleo de Recuperação e Reabilitação de Vidas (NURREVI),
Comunidade Terapêutica para tratamento de dependentes químicos do sexo
feminino.
Autor do livro “A
Religião de Darwin”.
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E eu pensando que as metáforas sobre o carpinteiro seria jogadas no lixo e não ficaria nada.
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