“Se a vossa justiça não exceder em muito a dos escribas
e fariseus,
jamais entrareis no reino dos céus”. (Mateus 5.20).
Há várias correntes teológicas muito
disseminadas em nosso meio ensinando que a entrada no reino está condicionada a
obediência a leis impostas pelos grupos religiosos. Se a interpretação do texto
no sermão da montanha for encarada como mandamentos por causa das antíteses de
Jesus (“eu, porém vos digo...”),
logo, o sermão da montanha se enquadra plenamente no contexto do antigo
testamento e nos ensinos dos escribas e fariseus. Nada mais é do que outra
imposição de leis, linha teológica defendida Hans Windisch chamada “concepção
perfeccionista”.
Outra linha teológica defendida pela
ortodoxia luterana chamada “ideal inatingível”, diz que não podemos ler com
seriedade o sermão da montanha sem ficarmos desesperados. Onde diz que uma palavra ofensiva a outra pessoa
você é digno de morte; Jesus exige castidade, que evite até mesmo um olhar
impuro, pois comete adultério. E levantam o questionamento: quem pode cumprir
tais ordenanças? Logo, o sermão é um ideal inatingível. As questões levantadas
são as exigências de Jesus. Não há possibilidades de cumprir tudo o que Jesus
ordenou, logo, interpretam como um ideal inatingível. Diz que é um grande erro
julgar realizável o sermão da montanha. O que Jesus prega é impossível de se
praticar.
Outra linha de interpretação do sermão
da montanha, diz que a aplicação do sermão é “uma ética de emergência”. Ou
seja, o que Jesus ensinou no sermão da montanha não é uma moral do progresso
para longo prazo, mas sim para as necessidades do momento. A idéia da pregação
e dos ensinos de Jesus na concepção da ética de emergência é encarada como a
pregação de Noé sobre o dilúvio, a destruição de Sodoma e Gomorra, e a cidade
de Nínive.
A idéia de exceder é ser mais do que
suficiente para indicar em que aspectos a abundância é expressa com transbordamento,
pessoas que têm uma vantagem, ser melhor, desligar; tem uma abundância de, ter
mais do que suficiente. O verbo perisseusse dá idéia de um rio que transborda.
Joachim Jeremias, Diz: “O sermão da montanha possui uma estrutura
bem clara (MT 5.20). A interpretação mais comum tende a colocar aqui
escribas e fariseus em pé de igualdade. Entretanto, se trata de dois grupos
distintos: os escribas são os mestres de teologia, e se tornaram escribas
depois de anos de estudos. Os fariseus, não são teólogos, mas sim grupos leigos
piedosos presentes em toda a parte do país.
A palavra Fariseu tem o significado
de "separados". Seita que parece ter
iniciado depois do exílio. Além dos livros do AT, os Fariseus reconheciam na
tradição oral um padrão de fé e vida. Procuravam reconhecimento e mérito
através da observância externa dos ritos e formas de piedade, tal como lavagens
cerimoniais, jejuns, orações, e esmolas. Comparativamente, negligentes da
genuína piedade, orgulhavam-se em suas boas obras. Mantinha de forma
persistente a fé na existência de anjos bons e maus, e na vinda do Messias; e
tinham esperança de que os mortos, após uma experiência preliminar de
recompensa ou penalidade no Hades, seriam novamente chamados a vida por ele, e
seriam recompensados, cada um de acordo com suas obras individuais.
Em oposição à dominação da família Herodes e do governo Romano,
eles de forma decisiva sustentavam a teocracia e a causa do seu país, e tinham
grande influência entre o povo comum. De acordo com Flávio Josefo, eram mais de
6000. Foram duramente repreendidos por Jesus, por causa da sua avareza,
ambição, confiança vazia nas obras externas, e aparência de piedade a fim de
ganhar popularidade, por causa disso se tornaram inimigos amargos de Jesus e
sua causa.
Quanto
ao estilo religioso dos escribas e fariseus, aparentemente, sem nenhuma
reprovação, tinham uma vida de oração, jejuns (Mt. 6.5-6, 16); valorizavam a
comunhão (segundo Flávio Josefo); fiéis dizimistas e doadores (Mt.23.23,
Lc.18.12); evangelistas ativos (Mt. 23.15). Não é de se admirar, pois no meio
evangélico atual encontramos pessoas do mesmo jeito, "assim também vós
exteriormente pareceis justos aos homens, mas interiormente estais cheios de
hipocrisia e de iniqüidade" (Mateus 23: 28). Primeiramente, a justiça dos
Teólogos, (escribas), Jesus os confronta com relação à interpretação das
escrituras, onde são apresentadas as leis de Moises, e a que Jesus estava
apresentando como, (“eu porém vos digo...”).
Em segundo lugar, A justiça dos leigos e piedosos, (fariseus), Jesus trata com
eles sobre a observância das leis, onde se opõe a esmolas, às três horas de
oração, ao jejum, como sendo forma de apresentarem exteriormente as pessoas e
se justificarem por esses atos.
Segundo
Russell Shedd, “Não é suficiente a
observância de leis e de costumes; para isso os fariseus serviam muito bem.
Precisa-se, uma certa realidade espiritual produzida pelo relacionamento com
Deus pela fé que resulta numa retidão interna pela expressão externa”.
Jesus
ao dialogar com um doutor da lei falou sobre justiça. Ao falar sobre atos de
justiça, Jesus apresentou aquele homem, personagens que se identificava com
ele, que eram os sacerdotes e levitas. (parábola do bom samaritano,
Lc.10.25-37). A primeira reação não foi boa, pois ele entendeu que como mestre,
representante da justiça e da lei, não amava o próximo. A segunda reação do
mestre da lei foi que percebeu que fazia discriminação das pessoas, logo não
agia segundo a justiça de Deus. A terceira reação, foi ser considerado inferior
ao samaritano, visto que o samaritano tem mais amor pelo próximo do que os
mestres da lei. Muitas das vezes, as classes que refutamos do nosso meio, tem
mais amor aos seus do que os próprios “mestres da lei” “teólogos, religiosos,
pastores, seminaristas”.
As
pessoas a quem desprezo por sua falta de justiça (dentro do nosso ponto de
vista) podem ser mais justas que eu. O Senhor Deus diz a Moises no Antigo
Testamento. em Deuteronômio 16.20 “A justiça seguirás, somente a justiça, para
que vivas e possua a herança a terra que te dá o Senhor, teu Deus”. No judaísmo
rabínico, a “justiça” se identificava completamente com a conformidade à lei.
Muitas das leis, normalmente as leis cerimoniais, já não era relevantes na
forma em que estavam, mas, segundo os rabinos, tinham a intenção do treinar os
homens na obediência e, especialmente, providenciar uma maneira para os homens
adquirirem mérito aos olhos de Deus. A doutrina da justiça segundo Mateus é
parte central da mensagem de Jesus. Até mesmo a obra de João é descrita nestes termos, porque veio “no caminho da
justiça” Mt. 21.32, e
conclama todo Israel ao arrependimento e ao batismo.
Anderson Resende
Barbosa
Igreja Batista
Jerusalém (Projeto Batista Boas Novas), Altamira, PA
Bacharel em
Teologia FATEBE/STBE
Missionário JMN,
Altamira-PA
(Revista Educador da CBB - 2T12)
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