quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

JUSTIÇA DO CRENTE X JUSTIÇA DOS ESCRIBAS E FARIZEUS: Os Ensinos de Jesus no Sermão da Montanha


“Se a vossa justiça não exceder em muito a dos escribas e fariseus,
jamais entrareis no reino dos céus”. (Mateus 5.20).

Há várias correntes teológicas muito disseminadas em nosso meio ensinando que a entrada no reino está condicionada a obediência a leis impostas pelos grupos religiosos. Se a interpretação do texto no sermão da montanha for encarada como mandamentos por causa das antíteses de Jesus (“eu, porém vos digo...”), logo, o sermão da montanha se enquadra plenamente no contexto do antigo testamento e nos ensinos dos escribas e fariseus. Nada mais é do que outra imposição de leis, linha teológica defendida Hans Windisch chamada “concepção perfeccionista”.

Outra linha teológica defendida pela ortodoxia luterana chamada “ideal inatingível”, diz que não podemos ler com seriedade o sermão da montanha sem ficarmos desesperados.  Onde diz que uma palavra ofensiva a outra pessoa você é digno de morte; Jesus exige castidade, que evite até mesmo um olhar impuro, pois comete adultério. E levantam o questionamento: quem pode cumprir tais ordenanças? Logo, o sermão é um ideal inatingível. As questões levantadas são as exigências de Jesus. Não há possibilidades de cumprir tudo o que Jesus ordenou, logo, interpretam como um ideal inatingível. Diz que é um grande erro julgar realizável o sermão da montanha. O que Jesus prega é impossível de se praticar.

Outra linha de interpretação do sermão da montanha, diz que a aplicação do sermão é “uma ética de emergência”. Ou seja, o que Jesus ensinou no sermão da montanha não é uma moral do progresso para longo prazo, mas sim para as necessidades do momento. A idéia da pregação e dos ensinos de Jesus na concepção da ética de emergência é encarada como a pregação de Noé sobre o dilúvio, a destruição de Sodoma e Gomorra, e a cidade de Nínive.

A idéia de exceder é ser mais do que suficiente para indicar em que aspectos a abundância é expressa com transbordamento, pessoas que têm uma vantagem, ser melhor, desligar; tem uma abundância de, ter mais do que suficiente. O verbo perisseusse dá idéia de um rio que transborda.

Joachim Jeremias, Diz: “O sermão da montanha possui uma estrutura bem clara (MT 5.20). A interpretação mais comum tende a colocar aqui escribas e fariseus em pé de igualdade. Entretanto, se trata de dois grupos distintos: os escribas são os mestres de teologia, e se tornaram escribas depois de anos de estudos. Os fariseus, não são teólogos, mas sim grupos leigos piedosos presentes em toda a parte do país.

A palavra Fariseu tem o significado de "separados". Seita que parece ter iniciado depois do exílio. Além dos livros do AT, os Fariseus reconheciam na tradição oral um padrão de fé e vida. Procuravam reconhecimento e mérito através da observância externa dos ritos e formas de piedade, tal como lavagens cerimoniais, jejuns, orações, e esmolas. Comparativamente, negligentes da genuína piedade, orgulhavam-se em suas boas obras. Mantinha de forma persistente a fé na existência de anjos bons e maus, e na vinda do Messias; e tinham esperança de que os mortos, após uma experiência preliminar de recompensa ou penalidade no Hades, seriam novamente chamados a vida por ele, e seriam recompensados, cada um de acordo com suas obras individuais.

Em oposição à dominação da família Herodes e do governo Romano, eles de forma decisiva sustentavam a teocracia e a causa do seu país, e tinham grande influência entre o povo comum. De acordo com Flávio Josefo, eram mais de 6000. Foram duramente repreendidos por Jesus, por causa da sua avareza, ambição, confiança vazia nas obras externas, e aparência de piedade a fim de ganhar popularidade, por causa disso se tornaram inimigos amargos de Jesus e sua causa.

Quanto ao estilo religioso dos escribas e fariseus, aparentemente, sem nenhuma reprovação, tinham uma vida de oração, jejuns (Mt. 6.5-6, 16); valorizavam a comunhão (segundo Flávio Josefo); fiéis dizimistas e doadores (Mt.23.23, Lc.18.12); evangelistas ativos (Mt. 23.15). Não é de se admirar, pois no meio evangélico atual encontramos pessoas do mesmo jeito, "assim também vós exteriormente pareceis justos aos homens, mas interiormente estais cheios de hipocrisia e de iniqüidade" (Mateus 23: 28). Primeiramente, a justiça dos Teólogos, (escribas), Jesus os confronta com relação à interpretação das escrituras, onde são apresentadas as leis de Moises, e a que Jesus estava apresentando como, (“eu porém vos digo...”). Em segundo lugar, A justiça dos leigos e piedosos, (fariseus), Jesus trata com eles sobre a observância das leis, onde se opõe a esmolas, às três horas de oração, ao jejum, como sendo forma de apresentarem exteriormente as pessoas e se justificarem por esses atos.

Segundo Russell Shedd, “Não é suficiente a observância de leis e de costumes; para isso os fariseus serviam muito bem. Precisa-se, uma certa realidade espiritual produzida pelo relacionamento com Deus pela fé que resulta numa retidão interna pela expressão externa”.

Jesus ao dialogar com um doutor da lei falou sobre justiça. Ao falar sobre atos de justiça, Jesus apresentou aquele homem, personagens que se identificava com ele, que eram os sacerdotes e levitas. (parábola do bom samaritano, Lc.10.25-37). A primeira reação não foi boa, pois ele entendeu que como mestre, representante da justiça e da lei, não amava o próximo. A segunda reação do mestre da lei foi que percebeu que fazia discriminação das pessoas, logo não agia segundo a justiça de Deus. A terceira reação, foi ser considerado inferior ao samaritano, visto que o samaritano tem mais amor pelo próximo do que os mestres da lei. Muitas das vezes, as classes que refutamos do nosso meio, tem mais amor aos seus do que os próprios “mestres da lei” “teólogos, religiosos, pastores, seminaristas”.

As pessoas a quem desprezo por sua falta de justiça (dentro do nosso ponto de vista) podem ser mais justas que eu. O Senhor Deus diz a Moises no Antigo Testamento. em Deuteronômio 16.20 “A justiça seguirás, somente a justiça, para que vivas e possua a herança a terra que te dá o Senhor, teu Deus”. No judaísmo rabínico, a “justiça” se identificava completamente com a conformidade à lei. Muitas das leis, normalmente as leis cerimoniais, já não era relevantes na forma em que estavam, mas, segundo os rabinos, tinham a intenção do treinar os homens na obediência e, especialmente, providenciar uma maneira para os homens adquirirem mérito aos olhos de Deus. A doutrina da justiça segundo Mateus é parte central da mensagem de Jesus. Até mesmo a obra de João é descrita nestes termos, porque veio “no caminho da justiça” Mt. 21.32, e conclama todo Israel ao arrependimento e ao batismo.


Anderson Resende Barbosa
Igreja Batista Jerusalém (Projeto Batista Boas Novas), Altamira, PA
Bacharel em Teologia FATEBE/STBE
Missionário JMN, Altamira-PA
(Revista Educador da CBB - 2T12)


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