sábado, 19 de abril de 2014

É CIÊNCIA OU RELIGIÃO O QUE SE ENSINAM EM NOSSAS ESCOLAS E FACULDADES?


Se este livro funcionar do modo como pretendo, os leitores religiosos que o abrirem serão ateus quando o terminarem.
(Richard Dawkins em “Deus, um delírio")
           
Em 1893, Thomas Henry Huxley, um biólogo britânico que ficou conhecido como "O Buldogue de Darwin"2 por ser o principal defensor público da teoria da Evolução de Charles Darwin, publicou o livro Darwiniana” com o claro objetivo de defender e difundir o evolucionismo.  De forma propositada ou não, é curioso como ele inicia o prefácio desse livro:  "Intitulei este volume Darwiniana porque as peças nele republicadas tratam da antiga doutrina da Evolução3.  Exatamente! Esta é a grande questão. A teoria da evolução é ciência ou uma religião cuja doutrina precisa ser defendida com a ferocidade de um buldogue?

É irônico, mas creio que a melhor definição para o darwinismo que alguém já deu é justamente a do “Buldogue de Darwin”, chamando-o de antiga DOUTRINA DA EVOLUÇÃO, e como doutrina o evolucionismo deixa de ser ciência para se transformar em religião ou, pior ainda, em seita, como afirma Lynn Margulis, professora de biologia da Universidade de Massachusetts:

O neodarwinismo é uma pequena seita religiosa do século XX, dentro da fé religiosa geral da biologia anglo-saxônica4.    

Margulis não faz tal afirmação por questões religiosas, ou por preconceito religioso baseada em um dogmatismo cristão cego.  Sua afirmação é baseada em uma observação simples dos argumentos utilizados por muitos evolucionistas para justificarem sua crença na teoria da evolução. 

1. O Pé Divino

Muitos cientistas, inclusive evolucionistas, concordam que o evolucionismo é uma doutrina que transcende a própria ciência, como deixa bem claro o professor Richard Lewontin, conhecido biólogo evolucionista de Harvard em um de seus artigos publicado no New York Review of Books : 

"Nós ficamos do lado da ciência, apesar do patente absurdo de algumas de suas construções, apesar de seu fracasso para cumprir muitas de suas extravagantes promessas em relação à saúde e à vida, apesar da tolerância da comunidade científica em prol de teorias certamente não comprovadas, porque nós temos um compromisso prévio, um compromisso com o materialismo.  Não é que os métodos e instituições da ciência de algum modo compelem-nos a aceitar uma explicação material dos fenômenos do mundo, mas, ao contrário, somos forçados por nossa prévia adesão à concepção materialista do universo a criar um aparato de investigação e um conjunto de conceitos que produzam explicações materialistas, não importa quão contraditórias, quão enganosas e quão mitificadas para os não iniciados. Além disso, para nós o materialismo é absoluto; não podemos permitir que o 'Pé Divino' entre por nossa porta" 5.   

Sem meias palavras, Lewontin, um cientista afamado, professor de biologia em uma das  Universidades mais conceituadas do mundo, afirma que seu compromisso não é com a verdade científica, mas com o materialismo.  Para ele, a ciência tem que se ajustar às concepções materialistas dos evolucionistas, e, por isso, todas as pesquisas têm que ser conduzidas de tal forma que seus resultados concordem com a doutrina darwinista.  Infelizmente, esta é a maneira de fazer ciência não apenas de Lewontin, mas também de muitos outros cientistas evolucionistas.  O princípio “científico” básico adotado como padrão é: -Primeiro definimos nossas crenças, nossas filosofias e nossos dogmas, e depois reelaboramos a ciência a fim de que esta apoie nossas crenças materialistas.
Em seu texto, Lewontin não apenas declara sua fé cega no materialismo, mas, sem nenhum pudor ou constrangimento, diz qual foi o principal motivo para ter adotado o evolucionismo como dogma: “Não podemos permitir que o pé divino entre por nossa porta”.   

Se isso não é uma seita, é o quê, então?   A visão de cientista como  sendo uma pessoa séria, isenta de qualquer vaidade e preconceitos, unicamente preocupada com a verdade, está se tornando quase que um mito em alguns campos da ciência.  Um pesquisador sério ao fazer uma pesquisa em um laboratório de forma exaustiva, repetindo-a inúmeras vezes, ao descobrir que seus resultados não concordam nem um pouco com suas teorias iniciais, deve chegar à conclusão de que suas teorias estavam equivocadas e refazê-las com base em seus resultados experimentais. Contudo, Lewontin e muitos outros cientistas naturalistas trabalham de forma inversa:  criam um conjunto de conceitos que produzam explicações materialistas. 

Segundo a professora de filosofia Marilena Chauí, a imagem de neutralidade científica é ilusória. Diz ela:

 “Quando o cientista escolhe uma certa definição de seu objeto, decide usar um determinado método e espera obter certos resultados, sua atividade não é neutra nem imparcial, mas feita por escolhas precisas6.   

Ademais, continua Chauí:

“...o senso comum vê a ciência desligada do contexto das condições de sua realização e de suas finalidades.  Eis por que tende a acreditar na neutralidade científica, na idéia de que o único compromisso da ciência é o conhecimento verdadeiro e desinteressado e a solução correta de nossos problemas.[...]A ideologia cientificista usa essa imagem idealizada para consolidar a da neutralidade cien­tífica, dissimulando, com isso, a origem e a fina­lidade da maioria das pesquisas, destinadas a controlar a Natureza e a sociedade segundo os interesses dos grupos que controlam os financiamentos dos laboratórios7.

A teoria da evolução é exatamente o exemplo dessa ideologia cientificista que se esconde atrás dos mitos da neutralidade científica e do cientista “mago”, comprometido única e exclusivamente com as verdades científicas, sejam elas quais forem.

A imagem que os cientistas evolucionistas fazem questão de vender para a sociedade é a de que a ciência séria, competente e verdadeira é a que eles estão realizando, e todo o cientista que não seja evolucionista, é um cientistazinho de terceira categoria, quando muito.

A imagem que os cientistas evolucionistas fazem questão de vender para a sociedade é a de que a ciência séria, competente e verdadeira é a que eles estão realizando, e todo o cientista que não seja evolucionista, é um cientistazinho de terceira categoria, quando muito.  Como bem escreve a professora Marilena Chauí:

“A ideologia e a mitologia cientificistas enca­ram a ciência não pelo prisma do trabalho do conhecimento, mas pelo prisma dos resultados (apre­sentados como espetaculares e miraculosos) e sobretudo como uma forma de poder social e de controle do pensamento humano.  Por esse moti­vo, aceitam a ideologia da competência, isto é, a idéia de que há, na sociedade, os que sabem e os que não sabem,  que os primeiros são competen­tes e têm o direito de mandar e de exercer pode­res,  enquanto os demais são incompetentes, de­vendo obedecer e ser mandados. Em resumo, a sociedade deve ser dirigida e comandada pelos que "sabem" e os demais devem executar as tarefas que lhes são ordenadas”  8

2. A Caixa Preta de Darwin

Michael Behe é bioquímico e professor na Universidade Lehigh, Pensilvânia, EUA.  Em seu livro “A Caixa Preta de Darwin”, ele apresenta uma série de argumentações bastante consistentes, sob o ponto de vista da biologia molecular, contrariando totalmente as bases do evolucionismo de Charles Darwin.  Para Behe:

 “A bioquímica levou a teoria de Darwin aos seus últimos limites”6, pois a partir do momento em que a ciência pôde investigar a célula permitindo compreender como a vida funciona e, mais ainda, observar a complexidade das estruturas orgânicas subcelulares, coisa que Charles Darwin sequer poderia imaginar com os recursos disponíveis no século XIX,  a grande e inevitável pergunta foi e continua sendo: “Como tudo isso poderia ter evoluído?”7.

Qualquer cientista isento de paixões dogmáticas, ao submeter a doutrina evolucionista a uma análise científica séria, percebe que  são tantos os seus “furos”, e que seus pressupostos são tão inconsistentes que aceitá-la como verdade absoluta, como faz Lewontin, e todos os outros evolucionistas, significa crer em algo muito mais extraordinário do que crer na existência de um Deus Criador.

Qualquer cientista isento de paixões dogmáticas, ao submeter a doutrina evolucionista a uma análise científica séria, percebe que são tantos os seus “furos”, e que seus pressupostos são tão inconsistentes que aceitá-la como verdade absoluta, significa crer em algo muito mais extraordinário do que crer na existência de um Deus Criador.

A bem da verdade, todas as áreas da ciência conspiram contra a teoria da evolução, contudo ela continua ditando as regras, o comportamento e os estudos da maioria dos indivíduos em todas as partes do mundo. Veja o que escreveu Jerry Coyne, do Departamento de Ecologia e Evolução da Universidade de Chicago: 

Concluímos, inesperadamente, que há poucas provas que sustentem a teoria neodarwiniana: seus alicerces teóricos são fracos, assim como as evidências experimentais que a apóiam8. 

Mas apesar disso tudo, ela continua sendo um paradigma para pesquisadores, professores e alunos do mundo inteiro.  Behe tem uma interessante explicação para esse fenômeno:

 “Alguns livros didáticos parecem fazer parte de um esforço concentrado para inculcar nos estudantes uma visão evolucionista. [...] Numerosos estudantes aprendem em seus livros a ver o mundo através de uma lente evolucionista.  Eles, contudo, não aprendem como a evolução darwiniana poderia ter produzido qualquer um dos sistemas bioquímicos notavelmente complicados que tais textos descrevem” 9.

3. Século 19, o Nascimento do Cientificismo

No século 19, após a revolução industrial iniciada na Inglaterra no século 18, a ciência aparentemente atingiu o auge de seu prestígio.  O desenvolvimento acelerado da tecnologia devido à aplicação na prática do conhecimento científico produziu na humanidade uma falsa idéia de que a ciência era capaz de resolver ou explicar tudo, surgindo, então, o cientificismo.   A crença de que tudo poderia ser explicado pela ciência, e esta deveria ser colocada acima de todos os outros modos do saber, acabou colocando a ciência numa posição de destaque, mística mesmo, e os cientistas, obviamente, começaram a receber uma aura de quase divinos.  A ciência “sempre” tinha uma explicação, e se não tivesse, deveria arranjar uma, mesmo que para isso tivesse que lançar mão de argumentos filosóficos e utilizar métodos nada ou muito pouco científicos. 

Esse semiendeusamento da ciência e do cientista continuou vivo no início do século XX, e nesse ambiente de supervalorização do conhecimento científico e de distorção da natureza original da ciência, surge Karl Raimund Popper, um filósofo da ciência austríaco, mas naturalizado britânico, nascido em 1902. Popper foi um respeitado e mordaz crítico do cientificismo e dessa visão quase que mística da ciência.  Ele defendeu a seguinte tese:

 “se a ciência se baseia na observação e teorização, só se podem tirar conclusões sobre o que foi observado, nunca sobre o que não foi. Assim, se um cientista observa milhares de cisnes, em muitos lugares diferentes e verifica que todos os cisnes observados são brancos,  isto não lhe permite afirmar cientificamente que todos os cisnes são brancos, pois, não importa quantos cisnes brancos tenham sido observados, basta o surgimento de um único cisne negro para derrubar a afirmação de que eles não existiriam.  Assim, qualquer afirmação científica baseada em observação jamais poderá ser considerada uma verdade absoluta ou definitiva”13.   

Karl Popper causou tanto impacto com sua visão a respeito do que realmente significa uma teoria científica, que ainda hoje sua tese14 é vista com respeito e admiração por muitos renomados cientistas, como o físico inglês Stephen  Hawking, que, em seu livro “O Universo numa casca de noz”, citando Popper, afirma: 

Uma teoria científica segura, seja do tempo ou de qualquer outro conceito, deve, na minha opinião, ser baseada na mais viável filosofia da ciência: a abordagem positivista formulada por Karl Popper e outros.  Segundo essa maneira de pensar, uma teoria cien­tífica é um modelo matemático que descreve e codifica as observações que fazemos.  Uma boa teoria descreverá uma vasta série de fenômenos  com base em uns poucos postulados simples e fará pre­visões claras que podem ser testadas.   Se as previsões concordam com as observações, a teoria sobrevive àquele teste, embora nunca se possa provar que esteja correta.   Por outro lado, se as observações discordam das previsões, é preciso descartar ou modificar a teoria. (Pelo menos, é isso que deveria acontecer.  Na prática, as pessoas muitas vezes questionam a exatidão das observações, a confiabili­dade e o caráter moral de seus realizadores)”  15.

Diante da argumentação de Popper sobre teoria científica, aceita por renomados cientistas como Stephen Hawking, cabe as perguntas: 

Se as previsões da teoria de Darwin não podem ser testadas, se nunca se observou qualquer mudança genética em cadeia de um ser vivo que produzisse ao longo do tempo, pela seleção natural, uma nova espécie mais complexa ou não, e se nenhuma das afirmações de que a evolução ocorreu é baseada em experimentos ou cálculos pertinentes,  como a teoria de Darwin continua sobrevivendo? 

Como uma teoria baseada em opiniões, idéias e conclusões sem a menor evidência científica que fizesse sentido já naquela época, e menos ainda hoje, passou a determinar os caminhos de todas as pesquisas científicas dali para frente? 

Como em pleno século XXI, com todos os avanços tecnológicos e descobertas científicas que apontam num sentido totalmente oposto ao apresentado por Darwin, a teoria da evolução continua dominando os meios científicos, acadêmicos e a própria mídia? 

 Para Behe, uma das razões para que isso continue acontecendo é o fato de que:

 “muitas pessoas, inclusive renomados cientistas, simplesmente não querem que exista qualquer outra coisa além da natureza” 16

 O apóstolo Paulo vai um pouco mais fundo do que Michel Behe nesse tema e diz:  “...o deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos...” (II Co 4.4).    Só pode ser esta a explicação!  Somente uma cegueira coletiva provocada pelo “deus deste século” para justificar não apenas a sobrevivência do evolucionismo, mas seu extraordinário poder de sedução e, como admitiu Richard Lewontin, a “enorme tolerância da comunidade científica em prol de teorias certamente não comprovadas”.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. DAWKINS, Richard.  “Deus, um delírio”.     São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p.29.  520p.
2. http://pt.wikipedia.org/wiki/Thomas_Huxley
3. HUXLEY, Thomas Henry. Darwiniana. London: MacMillan & Co., 1893.  (Collected Essays by T. H. Huxley, vol. 2).  [Edição brasileira:  Darwiniana. A "Origem das espécies" em debate. Trad. Fulvio Lubisco. São Paulo: Madras Editora Ltda., 2006. 256 páginas].
4. Mann, C. (1991), “Lynn Margulis: Science’s Unruly Earth Mother”, Science,  252, p.378-381.  Citado por BEHE, Michael. A Caixa Preta de Darwin, Rio de Janeiro, ZAHAR, 1997. pg. 35.
5. LEWONTIN, Richard.Billions and Billions of Demons”  The New York  Review, January 1997, p. 31.
6. CHAUI, Marilena.  Filosofia-Série Novo Ensino Médio.  São Paulo: Ática,  2002, p.118.
7. CHAUI, Op.Cit. p.119
8. CHAUI, Op.Cit. p.117
9. BEHE, Michael. A Caixa Preta de Darwin, Rio de Janeiro, ZAHAR, 1997. p.35.
10. BEHE, Op. Cit.  p.187
13. LANA, Carlos Roberto de.  Karl Popper, falseabilidade e limites da ciência.  Citado em  http://educacao.uol.com.br/filosofia/ult3323u34.jhtm
14. POPPER, Karl.   A lógica da pesquisa científica. Trad. Leônidas Hegenberg e  Octanny S, da Motta. São Paulo: Cultrix/Edusp, 1975.
15. HAWKING, Stephen.  O Universo numa casca de noz, 5. Ed., São Paulo, ARX  ed., 2002, pag.31
16. BEHE p.245
Roberto Ramos da Silva
Graduado em Teologia  pelo STBSB e em  Física pela UFSC. 
Mestre em Física de Plasmas pelo Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA).
Doutor em Física Atômica e Molecular pela UFSC.
 Diretor e Professor de Teologia do Instituto Batista de Educação, em Florianópolis, SC.
Fundador e Presidente do Núcleo de Recuperação e Reabilitação de Vidas (NURREVI), Comunidade Terapêutica para tratamento de dependentes químicos do sexo feminino.
Autor do livro “A Religião de Darwin”.

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