“Se este livro funcionar do modo como
pretendo, os leitores religiosos que o abrirem serão ateus quando o terminarem.”
(Richard Dawkins em “Deus, um delírio")
Em 1893, Thomas Henry Huxley, um biólogo britânico que ficou conhecido como "O Buldogue de
Darwin"2 por ser o principal defensor público
da teoria da Evolução de Charles Darwin,
publicou o livro “Darwiniana” com o
claro objetivo de defender e difundir o evolucionismo. De forma propositada ou não, é curioso como
ele inicia o prefácio desse livro: "Intitulei este volume Darwiniana
porque as peças nele republicadas tratam da antiga doutrina da Evolução”3. Exatamente! Esta é a grande questão. A teoria da evolução é ciência ou uma
religião cuja doutrina precisa ser defendida com a ferocidade de um buldogue?
É irônico, mas creio que a melhor
definição para o darwinismo que alguém já deu é justamente a do “Buldogue de
Darwin”, chamando-o
de antiga DOUTRINA DA EVOLUÇÃO, e como doutrina o evolucionismo deixa de ser ciência
para se transformar em religião ou, pior ainda, em seita, como afirma Lynn Margulis,
professora de biologia da Universidade de Massachusetts:
“O neodarwinismo é uma pequena
seita religiosa do século XX, dentro da fé religiosa geral da biologia anglo-saxônica”4.
Margulis não faz tal afirmação por questões religiosas, ou por
preconceito religioso baseada em um dogmatismo cristão cego. Sua afirmação é baseada em uma observação
simples dos argumentos utilizados por muitos evolucionistas para justificarem
sua crença na teoria da evolução.
1. O Pé
Divino
Muitos cientistas, inclusive evolucionistas, concordam que o
evolucionismo é uma doutrina que transcende a própria ciência, como deixa bem claro o professor
Richard Lewontin, conhecido biólogo evolucionista de Harvard em um de seus
artigos publicado no New York Review of Books :
"Nós ficamos do lado da
ciência, apesar do patente absurdo de algumas de suas construções, apesar de
seu fracasso para cumprir muitas de suas extravagantes promessas em relação à
saúde e à vida, apesar da tolerância da comunidade científica em prol de
teorias certamente não comprovadas, porque nós temos um compromisso prévio,
um compromisso com o materialismo.
Não é que os métodos e instituições da ciência de algum modo
compelem-nos a aceitar uma explicação material dos fenômenos do mundo, mas, ao
contrário, somos forçados por nossa prévia adesão à concepção materialista do
universo a criar um aparato de investigação e um conjunto de conceitos que
produzam explicações materialistas, não importa quão contraditórias, quão
enganosas e quão mitificadas para os não iniciados. Além disso, para nós o
materialismo é absoluto; não podemos permitir que o 'Pé Divino' entre por nossa
porta" 5.
Sem meias palavras, Lewontin,
um cientista afamado, professor de biologia em uma das Universidades mais conceituadas do mundo,
afirma que seu compromisso não é com a verdade científica, mas com o
materialismo. Para ele, a ciência tem que se ajustar às
concepções materialistas dos evolucionistas, e, por isso, todas as pesquisas
têm que ser conduzidas de tal forma que seus resultados concordem com a
doutrina darwinista. Infelizmente, esta
é a maneira de fazer ciência não apenas de Lewontin, mas também de muitos
outros cientistas evolucionistas. O
princípio “científico” básico adotado como padrão é: -Primeiro definimos nossas
crenças, nossas filosofias e nossos dogmas, e depois reelaboramos a ciência a
fim de que esta apoie nossas crenças materialistas.
Em seu texto, Lewontin
não apenas declara
sua fé cega no materialismo, mas, sem nenhum pudor ou constrangimento, diz qual
foi o principal motivo para ter adotado o evolucionismo como dogma: “Não
podemos permitir que o pé divino entre por nossa porta”.
Se isso não é uma seita, é o quê, então? A visão de cientista como sendo uma pessoa séria, isenta de qualquer
vaidade e preconceitos, unicamente preocupada com a verdade, está se tornando
quase que um mito em alguns campos da ciência.
Um pesquisador sério ao fazer uma pesquisa em um laboratório de forma
exaustiva, repetindo-a inúmeras vezes, ao descobrir que seus resultados não
concordam nem um pouco com suas teorias iniciais, deve chegar à conclusão de
que suas teorias estavam equivocadas e refazê-las com base em seus resultados
experimentais. Contudo, Lewontin
e muitos outros cientistas naturalistas trabalham de forma inversa: criam
um conjunto de conceitos que produzam explicações materialistas.
Segundo a professora de filosofia
Marilena Chauí, a imagem de neutralidade científica é ilusória. Diz ela:
“Quando
o cientista escolhe uma certa definição de seu objeto, decide usar um
determinado método e espera obter certos resultados, sua atividade não é neutra
nem imparcial, mas feita por escolhas precisas” 6.
Ademais, continua Chauí:
“...o
senso comum vê a ciência desligada do contexto das condições de sua realização
e de suas finalidades. Eis por que tende
a acreditar na neutralidade científica, na idéia de que o único compromisso da
ciência é o conhecimento verdadeiro e desinteressado e a solução correta de
nossos problemas.[...]A ideologia cientificista usa essa imagem idealizada para
consolidar a da neutralidade científica, dissimulando, com isso, a origem e a
finalidade da maioria das pesquisas, destinadas a controlar a Natureza e a
sociedade segundo os interesses dos grupos que controlam os financiamentos dos
laboratórios” 7.
A teoria da evolução é exatamente o
exemplo dessa ideologia cientificista que se esconde atrás dos mitos da
neutralidade científica e do cientista “mago”, comprometido única e
exclusivamente com as verdades científicas, sejam elas quais forem.
A
imagem que os cientistas evolucionistas fazem questão de vender para a
sociedade é a de que a ciência séria, competente e verdadeira é a que eles
estão realizando, e todo o cientista que não seja evolucionista, é um
cientistazinho de terceira categoria, quando muito.
A imagem que os cientistas
evolucionistas fazem questão de vender para a sociedade é a de que a ciência
séria, competente e verdadeira é a que eles estão realizando, e todo o
cientista que não seja evolucionista, é um cientistazinho de terceira
categoria, quando muito. Como bem
escreve a professora Marilena Chauí:
“A
ideologia e a mitologia cientificistas encaram a ciência não pelo prisma do
trabalho do conhecimento, mas pelo prisma dos resultados (apresentados como
espetaculares e miraculosos) e sobretudo como uma forma de poder social e de
controle do pensamento humano. Por esse
motivo, aceitam a ideologia da competência, isto é, a idéia de que há, na
sociedade, os que sabem e os que não sabem,
que os primeiros são competentes e têm o direito de mandar e de exercer
poderes, enquanto os demais são
incompetentes, devendo obedecer e ser mandados. Em resumo, a sociedade deve
ser dirigida e comandada pelos que "sabem" e os demais devem executar
as tarefas que lhes são ordenadas”
8
2. A
Caixa Preta de Darwin
Michael Behe é bioquímico e
professor na Universidade Lehigh, Pensilvânia, EUA. Em seu livro “A Caixa Preta de Darwin”, ele apresenta uma série de argumentações
bastante consistentes, sob o ponto de vista da biologia molecular, contrariando
totalmente as bases do evolucionismo de Charles Darwin. Para Behe:
“A bioquímica levou a teoria de Darwin aos
seus últimos limites”6, pois a partir do momento em que a ciência
pôde investigar a célula permitindo compreender como a vida funciona e, mais
ainda, observar a complexidade das estruturas orgânicas subcelulares, coisa que
Charles Darwin sequer poderia imaginar com os recursos disponíveis no século
XIX, a grande e inevitável pergunta foi
e continua sendo: “Como tudo isso poderia ter evoluído?”7.
Qualquer cientista isento de paixões
dogmáticas, ao submeter a doutrina evolucionista a uma análise científica
séria, percebe que são tantos os seus
“furos”, e que seus pressupostos são tão inconsistentes que aceitá-la como
verdade absoluta, como faz Lewontin, e todos os outros evolucionistas,
significa crer em algo muito mais extraordinário do que crer na existência de um
Deus Criador.
Qualquer cientista
isento de paixões dogmáticas, ao submeter a doutrina evolucionista a uma
análise científica séria, percebe que são tantos os seus “furos”, e que seus
pressupostos são tão inconsistentes que aceitá-la como verdade absoluta,
significa crer em algo muito mais extraordinário do que crer na existência de
um Deus Criador.
A bem da verdade, todas as áreas da
ciência conspiram contra a teoria da evolução, contudo ela continua ditando as
regras, o comportamento e os estudos da maioria dos indivíduos em todas as
partes do mundo. Veja o que escreveu Jerry Coyne, do Departamento de Ecologia e
Evolução da Universidade de Chicago:
“Concluímos,
inesperadamente, que há poucas provas que sustentem a teoria neodarwiniana:
seus alicerces teóricos são fracos, assim como as evidências experimentais que
a apóiam”8.
Mas apesar disso tudo, ela continua
sendo um paradigma para pesquisadores, professores e alunos do mundo
inteiro. Behe tem uma interessante
explicação para esse fenômeno:
“Alguns
livros didáticos parecem fazer parte de um esforço concentrado para inculcar
nos estudantes uma visão evolucionista. [...] Numerosos estudantes aprendem em seus livros a ver o mundo através de
uma lente evolucionista. Eles, contudo,
não aprendem como a evolução darwiniana poderia ter produzido qualquer um dos
sistemas bioquímicos notavelmente complicados que tais textos descrevem” 9.
3. Século
19, o Nascimento do Cientificismo
No século
19, após a revolução industrial iniciada na Inglaterra no século 18, a ciência aparentemente atingiu o
auge de seu prestígio. O desenvolvimento
acelerado da tecnologia devido à aplicação na prática do conhecimento
científico produziu na humanidade uma falsa idéia de que a ciência era capaz de
resolver ou explicar tudo, surgindo, então, o cientificismo. A crença de que tudo poderia ser explicado
pela ciência, e esta deveria ser colocada acima de todos os outros modos do
saber, acabou colocando a ciência numa posição de destaque, mística mesmo, e os
cientistas, obviamente, começaram a receber uma aura de quase divinos. A ciência “sempre” tinha uma explicação, e se
não tivesse, deveria arranjar uma, mesmo que para isso tivesse que lançar mão
de argumentos filosóficos e utilizar métodos nada ou muito pouco
científicos.
Esse semiendeusamento da ciência e
do cientista continuou vivo no início do século XX, e nesse ambiente de
supervalorização do conhecimento científico e de distorção da natureza original
da ciência, surge Karl Raimund Popper, um filósofo da ciência austríaco, mas naturalizado britânico,
nascido em 1902. Popper foi um respeitado e mordaz crítico do cientificismo e
dessa visão quase que mística da ciência.
Ele defendeu a seguinte tese:
“se a ciência se baseia na observação e
teorização, só se podem tirar conclusões sobre o que foi observado, nunca sobre
o que não foi. Assim, se um cientista observa milhares de cisnes, em muitos
lugares diferentes e verifica que todos os cisnes observados são brancos, isto não lhe permite afirmar cientificamente
que todos os cisnes são brancos, pois, não importa quantos cisnes brancos
tenham sido observados, basta o surgimento de um único cisne negro para
derrubar a afirmação de que eles não existiriam. Assim, qualquer afirmação científica baseada
em observação jamais poderá ser considerada uma verdade absoluta ou definitiva”13.
Karl Popper causou tanto impacto com
sua visão a respeito do que realmente significa uma teoria científica, que
ainda hoje sua tese14 é vista com respeito e admiração por muitos
renomados cientistas, como o físico inglês Stephen Hawking, que, em seu livro “O Universo numa casca de noz”, citando
Popper, afirma:
“Uma
teoria científica segura, seja do tempo ou de qualquer outro conceito, deve, na
minha opinião, ser baseada na mais viável filosofia da ciência: a abordagem
positivista formulada por Karl Popper e outros.
Segundo essa maneira de pensar, uma teoria científica é um modelo
matemático que descreve e codifica as observações que fazemos. Uma boa teoria descreverá uma vasta série de
fenômenos com base em uns poucos
postulados simples e fará previsões claras que podem ser testadas. Se as previsões concordam com as
observações, a teoria sobrevive àquele teste, embora nunca se possa provar que
esteja correta. Por outro lado, se as
observações discordam das previsões, é preciso descartar ou modificar a teoria.
(Pelo menos, é isso que deveria acontecer.
Na prática, as pessoas muitas vezes questionam a exatidão das
observações, a confiabilidade e o caráter moral de seus realizadores)” 15.
Diante da argumentação de Popper
sobre teoria científica, aceita por renomados cientistas como Stephen Hawking,
cabe as perguntas:
Se
as previsões da teoria de Darwin não podem ser testadas, se nunca se observou
qualquer mudança genética em cadeia de um ser vivo que produzisse ao longo do
tempo, pela seleção natural, uma nova espécie mais complexa ou não, e se
nenhuma das afirmações de que a evolução ocorreu é baseada em experimentos ou
cálculos pertinentes, como a teoria de
Darwin continua sobrevivendo?
Como
uma teoria baseada em opiniões, idéias e conclusões sem a menor evidência
científica que fizesse sentido já naquela época, e menos ainda hoje, passou a
determinar os caminhos de todas as pesquisas científicas dali para frente?
Como
em pleno século XXI, com todos os avanços tecnológicos e descobertas
científicas que apontam num sentido totalmente oposto ao apresentado por
Darwin, a teoria da evolução continua dominando os meios científicos,
acadêmicos e a própria mídia?
Para Behe, uma das razões para que isso
continue acontecendo é o fato de que:
“muitas pessoas, inclusive renomados
cientistas, simplesmente não querem que exista qualquer outra coisa além da
natureza” 16.
O apóstolo Paulo vai um pouco mais fundo do
que Michel Behe nesse tema e diz: “...o
deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos...” (II Co
4.4). Só pode ser esta a explicação! Somente uma cegueira coletiva provocada pelo
“deus deste século” para justificar não apenas a sobrevivência do
evolucionismo, mas seu extraordinário poder de sedução e, como admitiu Richard
Lewontin, a “enorme tolerância da comunidade científica em prol
de teorias certamente não comprovadas”.
____________________________________
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. DAWKINS, Richard. “Deus,
um delírio”. São Paulo: Companhia
das Letras, 2007, p.29. 520p.
2. http://pt.wikipedia.org/wiki/Thomas_Huxley
3. HUXLEY, Thomas Henry. Darwiniana. London: MacMillan & Co., 1893.
(Collected Essays by T. H. Huxley, vol. 2). [Edição brasileira: Darwiniana. A "Origem das
espécies" em debate. Trad. Fulvio Lubisco. São Paulo: Madras
Editora Ltda., 2006. 256 páginas].
4. Mann, C. (1991), “Lynn
Margulis: Science’s Unruly Earth Mother”, Science, 252, p.378-381. Citado por BEHE, Michael. A Caixa Preta de Darwin, Rio de Janeiro,
ZAHAR, 1997. pg. 35.
5. LEWONTIN, Richard. “Billions and Billions of Demons” The New York
Review, January 1997, p. 31.
6. CHAUI, Marilena. Filosofia-Série
Novo Ensino Médio. São Paulo:
Ática, 2002, p.118.
7. CHAUI, Op.Cit. p.119
8. CHAUI, Op.Cit. p.117
9. BEHE, Michael. A Caixa Preta de Darwin, Rio de Janeiro,
ZAHAR, 1997. p.35.
10. BEHE, Op. Cit. p.187
13. LANA, Carlos Roberto de. Karl
Popper, falseabilidade e limites da ciência. Citado em
http://educacao.uol.com.br/filosofia/ult3323u34.jhtm
14. POPPER,
Karl. A lógica da pesquisa
científica.
Trad. Leônidas Hegenberg e Octanny S, da
Motta. São Paulo: Cultrix/Edusp, 1975.
15. HAWKING, Stephen. O
Universo numa casca de noz, 5. Ed., São Paulo, ARX ed., 2002, pag.31
16. BEHE p.245
Roberto Ramos da Silva
Graduado em
Teologia pelo STBSB e em Física pela UFSC.
Mestre em Física de
Plasmas pelo Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA).
Doutor em Física
Atômica e Molecular pela UFSC.
Diretor e Professor de Teologia do Instituto
Batista de Educação, em Florianópolis, SC.
Fundador e
Presidente do Núcleo de Recuperação e Reabilitação de Vidas (NURREVI),
Comunidade Terapêutica para tratamento de dependentes químicos do sexo
feminino.
Autor do livro “A
Religião de Darwin”.
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