terça-feira, 13 de janeiro de 2015

OS SETE SABERES NECESSÁRIOS À EDUCAÇÃO DO FUTURO


INFORMAÇÕES [1]
Edgar Nahoun (que mais tarde adotará o sobrenome "Morin"), autor de “Os sete saberes necessários à educação do futuro” nasceu em Paris no dia 8 de julho. É o filho único de um casal de judeus sefarditas (descendentes dos judeus expulsos da Península Ibérica em 1492/1496). Desde cedo expressa sua apreciação pelo cinema, livros, música e política estando envolvido em atividades políticas desde muito cedo na Frente Popular e na Guerra Civil Espanhola. Viveu e conviveu com a segunda guerra mundial tendo nesta época influência socialista. O livro, "L’An Zéro de l’Allemagne" (O Ano Zero da Alemanha) foi o primeiro de uma série que têm sido apontados como grandes contribuições ao pensamento do século XX. Quando escreveu "L’Homme et la Mort" (O Homem e a Morte), Morin formaria a base de sua cultura transdisciplinar enfocando a geografia humana, etnografia, pré-história, psicologia infantil, psicanálise, história das religiões, ciência das mitologias, história das idéias, filosofia. Como conferencista já esteve em diversos países, inclusive no Brasil mais de uma vez participando de Congressos e Palestras em Associações e Universidades. À Morin foi solicitado pela UNESCO, escrever sobre a educação do amanhã e traz à nossas mãos a obra Os sete saberes necessários à educação do futuro  que se torna uma grande contribuição ao tema.


RESUMO
Toda sociedade regida por sua própria cultura precisa tratar de sete saberes que são considerados como necessários e fundamentais à educação do futuro, a saber:
1. As cegueiras do conhecimento: o erro e a ilusão – uma das preocupações da educação é a transmissão de conhecimento. Entretanto é importante que esteja alerta quanto à possibilidade do ‘erro e da ilusão’.  O ser humano por sua própria natureza determina que coisas vai aceitar ou rejeitar.  A mente exclui o que não convém ou o que não consegue assimilar e para isso faz uso da razão. A racionalidade analisa e critica. A racionalização cai no perigo de se formar um modelo “mecanicista e determinista” e nega a contestação.  O ser humano em sua natureza cria as idéias e ao mesmo tempo é dirigido por elas. Muitas destas provém de sua característica a “noosfera – a esfera das coisas do espírito” (p.28). A cada momento estamos em contato com o novo e o inesperado e à educação cabe o papel possibilitar o acesso ao conhecimento. 2. Os princípios do conhecimento pertinente – um conhecimento isolado perde de seu valor quando não está inserido em conhecimentos parciais e globais. Todo conhecimento deve estar inserido no todo e não visando somente partes. O conhecimento pertinente é aquele que é capaz de situar qualquer informação em seu contexto, no conjunto em que está inserido. Para isso é necessário levar-se em conta a compreensão, a percepção do objeto, das pessoas, dos acontecimentos e as relações estabelecidas. Um desafio para a educação de hoje é essa conjugação entre as partes e o todo. 3. Ensinar a condição humana -  Compreender o ser humano com todas a múltiplas complexidades do que significa este ‘humano’ é o desafio para o futuro. Leva-se em conta sua condição cósmica pertencente a um universo complexo; sua condição física e suas potencialidades e limitações, sua condição de ser vivente terrestre, sua condição humana como ser animal. A sociedade e a cultura marcam com sua diversidade e pluralidade as características do humano e constituem desafio para a educação do futuro. 4. Ensinar a identidade terrena -  a necessidade de se conscientizar o estudante a se apropriar de sua condição terrena constitui importante aspecto. Somos todos seres pertencentes ao mesmo conjunto global. A ‘planetarização’, característica do desenvolvimento do planeta terra, traz em sua história aspectos que o une, como por exemplo, através da tecnologia e aspectos que o desunem como a não compreensão das diferenças entre as nações. 5. Enfrentar as incertezas - O mundo é uma constante de mudanças. Inovações e criações geram mudanças constroem novas perspectivas e destroem o construído. É a incerteza, é o risco. Cabe a educação ensinar o enfrentamento das incertezas ajudando o estudante a manter uma constante vigilância nas mudanças. 6. Ensinar a compreensão – A missão espiritual da educação é ajudar as pessoas a manterem um espírito colaborativo, com foco na empatia, na identificação com o outro num processo constante de re-aprender. 7. A ética do gênero Humano – A democracia chama pela autonomia dos indivíduos. Entretanto é frágil, incompleta e vive seus conflitos.  O avanço tecnológico apesar de grandes contribuições, traz o prejuízo da ‘fragmentação do saber’. A antropo-ética se propõe ao resgate do civismo da solidariedade, da responsabilidade a uma maior consciência da relação indivíduo singular e espécie humana.

CRÍTICA
A obra “Os sete saberes necessários à educação do futuro” vem atrelada ao tema central do Relatório da Comissão Internacional sobre a educação para o século XXI com enfoque no conhecer, fazer, conviver e ser. Os sete saberes apontados por Morin vêm como uma cascata interligando-se na argumentação do escritor proporcionando ao leitor uma compreensão do texto como um todo. Em cada item o leitor vai criando uma identificação com os problemas do presente século. Entretanto sua linguagem é complexa, argumentativa e exige do leitor cuidado e atenção. Quando inicia falando sobre o erro e a ilusão Morin com muita propriedade argumenta sobre como o ser humano, em contato com o conhecimento,  pode vir a se deixar levar. A educação pode ajudar o homem a ter uma consciência mais crítica. Este primeiro momento do livro se articula muito bem com o que se segue que é o conhecimento pertinente que é aquele “capaz de situar qualquer informação em seu contexto”[2] . Isabel Alarcão[3] ao falar sobre a formação de professores parte do conceito do conhecimento pertinente e diz que se este conceito é valido para a educação é igualmente válido para o que se realiza em educação, ou seja, o trabalho do professor. Para “intervir’ é preciso “analisar os contornos da crise, perceber os factores que estão na sua génese, congregar esforços e intervir sistemática e coerentemente”.[4] O item destinado à conscientização do planeta terra, identidade terrena, faz reforçar o que tem sido palco de acirradas discussões e de tantas lutas que alguns grupos levantam como bandeira. Cuidar do planeta terra, harmonizar todas as forças na busca de um modo de vida mais feliz para todos é importante tarefa da educação. A concorrência desleal a competitividade destruidora não traz benefícios para o ser humano quando visto em sua integralidade. Aliás, Morin quando se refere ao ser humano sempre o coloca como espécie, observando sua integralidade, um ser integral histórica e socialmente. A condição de humano complexo, é descrito de forma igualmente complexa constituindo uma leitura que exige esforços para sua compreensão. Enfrentar as incertezas e Ensinar a compreensão constituem, no parecer desta resenhista em um dos aspectos mais importantes de toda esta obra.  A frase “aprender a navegar em um oceano de incertezas em meio a arquipélagos de certeza” (p. 91) provoca no leitor um momento de  reflexão que o leva a parar para pensar na velocidade com que o conhecimento se desenvolve. Há que afirme que o ser humano não é capar de captar um bilionésimo de informações que estão disponíveis a ele. A incerteza decorrente desta aceleração faz lembrar das palavras de Larossa[5] que afirma que a ‘experiência’ “requer um gesto de interrupção: requer parar para pensar, parar para olhar, parar para escutar, pensar mais devagar [...] parar para sentir, sentir mais devagar, demorar-se nos detalhes [...] falar sobre o que nos acontece, aprender a lentidão, escutar os outros, cultivar a arte do encontro, calar muito, e ter paciência e dar-se tempo e espaço”. Quando Morin delega à educação o ‘ensino das incertezas’, concorda com Larossa quanto a este momento de ‘parar para’ ... a compreensão desta complexidade do ser humano, buscando fazer com que cada experiência vivida traga um sentido e significado em meio a este ‘oceano’ de incertezas. A forma como o autor descreve a  dialética compreensão/incompreensão desafia o leitor a pensar seu papel de educador, educando, cidadão, pai, mãe, patrão, enfim, seu papel na sociedade.

Conclusão - A linguagem e o estilo literário de Morin requerem atenção e concentração do leitor. Em alguns capítulos, o desenvolvimento dos textos em sub-títulos são curtos e parecem pedir maiores esclarecimentos caracterizando um estilo de escrita. A presente obra traz uma contribuição à área da educação que recomendo ao leitor interessado no presente e no futuro da educação.


Madalena de Oliveira Molochenco
Bacharel em Teologia com especialização em Educação Religiosa,  Licenciatura em Pedagogia, Pós-graduação em Magistério do Ensino Superior e Psicopedagogia, Pós-graduação em Formação de Professores para o Ensino Religioso Escolar, Mestre em Distúrbios do Desenvolvimento, Doutoranda em Educação. Professora da Faculdade Teológica Batista de São Paulo há mais de 20 anos, onde hoje desempenha a função de Coordenação acadêmica. Membro do Comitê Consultivo de Educação Religiosa da CBB.






[1] http://edgarmorin.sescsp.org.br – acesso em 05/02/2007
[2] MORIN, Edgar. A cabeça bem feita. Rio de Janeiro : Bertrand Brasil, 2004.
[3] ALARCÃO, Isabel, professores reflexivos em uma escola reflexiva. São Paulo : Cortez, 2003
[4] Idem. p.15
[5] LAROSSA, Jorge Bondia. Nota sobre a experiência e o saber da experiência. Leituras. (Textos-subsídio ao trabalho pedagógico das Unidades da rede Municipal de Educação de Campinas). Campinas, 2001.

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