INFORMAÇÕES [1]
Edgar Nahoun (que mais tarde adotará o
sobrenome "Morin"), autor de “Os sete saberes necessários à
educação do futuro” nasceu em Paris no dia 8 de julho. É o filho único de
um casal de judeus sefarditas (descendentes dos judeus expulsos da Península
Ibérica em 1492/1496). Desde cedo expressa sua apreciação pelo cinema, livros,
música e política estando envolvido em atividades políticas desde muito cedo na
Frente Popular e na Guerra Civil Espanhola. Viveu e conviveu com a segunda
guerra mundial tendo nesta época influência socialista. O livro, "L’An
Zéro de l’Allemagne" (O Ano Zero da Alemanha) foi o primeiro de uma série
que têm sido apontados como grandes contribuições ao pensamento do século XX.
Quando escreveu "L’Homme et la
Mort " (O Homem e a Morte), Morin formaria a base de sua
cultura transdisciplinar enfocando a geografia humana, etnografia,
pré-história, psicologia infantil, psicanálise, história das religiões, ciência
das mitologias, história das idéias,
filosofia. Como conferencista já esteve em diversos países, inclusive no Brasil
mais de uma vez participando de Congressos e Palestras em Associações e
Universidades. À Morin foi solicitado pela UNESCO, escrever sobre a educação do
amanhã e traz à nossas mãos a obra Os
sete saberes necessários à educação do futuro que se torna uma grande contribuição ao tema.
RESUMO
Toda sociedade regida por sua própria
cultura precisa tratar de sete saberes que são considerados como necessários e
fundamentais à educação do futuro, a saber:
1. As
cegueiras do conhecimento: o erro e a ilusão – uma das preocupações da educação
é a transmissão de conhecimento. Entretanto é importante que esteja alerta
quanto à possibilidade do ‘erro e da ilusão’.
O ser humano por sua própria natureza determina que coisas vai aceitar ou
rejeitar. A mente exclui o que não
convém ou o que não consegue assimilar e para isso faz uso da razão. A
racionalidade analisa e critica. A racionalização cai no perigo de se formar um
modelo “mecanicista e determinista” e nega a contestação. O ser humano em sua natureza cria as idéias e
ao mesmo tempo é dirigido por elas. Muitas destas provém de sua característica
a “noosfera – a esfera das coisas do espírito” (p.28). A cada momento estamos
em contato com o novo e o inesperado e à educação cabe o papel possibilitar o
acesso ao conhecimento. 2. Os princípios
do conhecimento pertinente – um conhecimento isolado perde de seu valor
quando não está inserido em conhecimentos parciais e globais. Todo conhecimento
deve estar inserido no todo e não visando somente partes. O conhecimento
pertinente é aquele que é capaz de situar qualquer informação em seu contexto,
no conjunto em que está inserido. Para isso é necessário levar-se em conta a
compreensão, a percepção do objeto, das pessoas, dos acontecimentos e as
relações estabelecidas. Um desafio para a educação de hoje é essa conjugação
entre as partes e o todo. 3. Ensinar a
condição humana - Compreender o ser
humano com todas a múltiplas complexidades do que significa este ‘humano’ é o
desafio para o futuro. Leva-se em conta sua condição cósmica pertencente a um universo
complexo; sua condição física e suas potencialidades e limitações, sua condição
de ser vivente terrestre, sua condição humana como ser animal. A sociedade e a
cultura marcam com sua diversidade e pluralidade as características do humano e
constituem desafio para a educação do futuro. 4. Ensinar a identidade terrena - a necessidade de se conscientizar o estudante
a se apropriar de sua condição terrena constitui importante aspecto. Somos
todos seres pertencentes ao mesmo conjunto global. A ‘planetarização’,
característica do desenvolvimento do planeta terra, traz em sua história
aspectos que o une, como por exemplo, através da tecnologia e aspectos que o
desunem como a não compreensão das diferenças entre as nações. 5. Enfrentar as incertezas - O mundo é
uma constante de mudanças. Inovações e criações geram mudanças constroem novas
perspectivas e destroem o construído. É a incerteza, é o risco. Cabe a educação
ensinar o enfrentamento das incertezas ajudando o estudante a manter uma
constante vigilância nas mudanças. 6.
Ensinar a compreensão – A missão espiritual da educação é ajudar as pessoas
a manterem um espírito colaborativo, com foco na empatia, na identificação com
o outro num processo constante de re-aprender. 7. A ética do gênero Humano – A democracia chama pela autonomia dos indivíduos. Entretanto é frágil,
incompleta e vive seus conflitos. O
avanço tecnológico apesar de grandes contribuições, traz o prejuízo da
‘fragmentação do saber’. A antropo-ética se propõe ao resgate do civismo da
solidariedade, da responsabilidade a uma maior consciência da relação indivíduo
singular e espécie humana.
CRÍTICA
A obra “Os
sete saberes necessários à educação do futuro” vem atrelada ao tema central
do Relatório da Comissão Internacional sobre a educação para o século XXI com enfoque
no conhecer, fazer, conviver e ser.
Os sete saberes apontados por Morin vêm como uma cascata interligando-se na
argumentação do escritor proporcionando ao leitor uma compreensão do texto como
um todo. Em cada item o leitor vai criando uma identificação com os problemas
do presente século. Entretanto sua linguagem é complexa, argumentativa e exige
do leitor cuidado e atenção. Quando inicia falando sobre o erro e a ilusão
Morin com muita propriedade argumenta sobre como o ser humano, em contato com o
conhecimento, pode vir a se deixar levar.
A educação pode ajudar o homem a ter uma consciência mais crítica. Este
primeiro momento do livro se articula muito bem com o que se segue que é o
conhecimento pertinente que é aquele “capaz de situar qualquer informação em
seu contexto”[2] . Isabel
Alarcão[3] ao
falar sobre a formação de professores parte do conceito do conhecimento
pertinente e diz que se este conceito é valido para a educação é igualmente
válido para o que se realiza em educação, ou seja, o trabalho do professor.
Para “intervir’ é preciso “analisar os contornos da crise, perceber os factores
que estão na sua génese, congregar esforços e intervir sistemática e
coerentemente”.[4] O item
destinado à conscientização do planeta terra, identidade terrena, faz reforçar
o que tem sido palco de acirradas discussões e de tantas lutas que alguns
grupos levantam como bandeira. Cuidar do planeta terra, harmonizar todas as
forças na busca de um modo de vida mais feliz para todos é importante tarefa da
educação. A concorrência desleal a competitividade destruidora não traz
benefícios para o ser humano quando visto em sua integralidade. Aliás, Morin
quando se refere ao ser humano sempre o coloca como espécie, observando sua
integralidade, um ser integral histórica e socialmente. A condição de humano
complexo, é descrito de forma igualmente complexa constituindo uma leitura que
exige esforços para sua compreensão. Enfrentar as incertezas e Ensinar a
compreensão constituem, no parecer desta resenhista em um dos aspectos mais
importantes de toda esta obra. A frase
“aprender a navegar em um oceano de incertezas em meio a arquipélagos de
certeza” (p. 91) provoca no leitor um momento de reflexão que o leva a parar para pensar na
velocidade com que o conhecimento se desenvolve. Há que afirme que o ser humano
não é capar de captar um bilionésimo de informações que estão disponíveis a ele.
A incerteza decorrente desta aceleração faz lembrar das palavras de Larossa[5] que
afirma que a ‘experiência’ “requer um gesto de interrupção: requer parar para
pensar, parar para olhar, parar para escutar, pensar mais devagar [...] parar para
sentir, sentir mais devagar, demorar-se nos detalhes [...] falar sobre o que
nos acontece, aprender a lentidão, escutar os outros, cultivar a arte do
encontro, calar muito, e ter paciência e dar-se tempo e espaço”. Quando Morin
delega à educação o ‘ensino das incertezas’, concorda com Larossa quanto a este
momento de ‘parar para’ ... a compreensão desta complexidade do ser humano,
buscando fazer com que cada experiência vivida traga um sentido e significado
em meio a este ‘oceano’ de incertezas. A forma como o autor descreve a dialética compreensão/incompreensão desafia o
leitor a pensar seu papel de educador, educando, cidadão, pai, mãe, patrão,
enfim, seu papel na sociedade.
Conclusão
- A
linguagem e o estilo literário de Morin requerem atenção e concentração do
leitor. Em alguns capítulos, o desenvolvimento dos textos em sub-títulos são
curtos e parecem pedir maiores esclarecimentos caracterizando um estilo de
escrita. A presente obra traz uma contribuição à área da educação que recomendo
ao leitor interessado no presente e no futuro da educação.
Madalena de Oliveira
Molochenco
Bacharel em Teologia com
especialização em Educação Religiosa,
Licenciatura em Pedagogia, Pós-graduação em Magistério do Ensino
Superior e Psicopedagogia, Pós-graduação em Formação de Professores para o
Ensino Religioso Escolar, Mestre em Distúrbios do Desenvolvimento, Doutoranda
em Educação. Professora da Faculdade Teológica
Batista de São Paulo há mais de 20 anos, onde hoje desempenha a função de Coordenação
acadêmica. Membro do Comitê Consultivo de Educação Religiosa da CBB.
[1] http://edgarmorin.sescsp.org.br
– acesso em 05/02/2007
[2] MORIN,
Edgar. A cabeça bem feita. Rio de
Janeiro : Bertrand Brasil, 2004.
[3] ALARCÃO,
Isabel, professores reflexivos em uma
escola reflexiva. São Paulo : Cortez, 2003
[4] Idem.
p.15
[5] LAROSSA,
Jorge Bondia. Nota sobre a experiência e
o saber da experiência. Leituras. (Textos-subsídio ao trabalho pedagógico
das Unidades da rede Municipal de Educação de Campinas). Campinas, 2001.
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