quinta-feira, 30 de maio de 2013

COMO PÔDE ENTRAR O PECADO NO MUNDO SE DEUS CRIOU TUDO PERFEITO E SEM PECADO?

Como pastor e como professor tanto de teologia quanto de física, de vez em quando sou abordado por alunos e jovens de igrejas com perguntas realmente complicadas, embaraçosas e desconcertantes a respeito de ciências e de certos textos bíblicos realmente complicados.  Perguntas do tipo: “em que momento da criação se deu a queda de Satanás?”,  ou “se Bíblia diz que “viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom (Gênesis 1:31), como foi possível então que entrasse o pecado no céu?  Se era tudo perfeito, como pôde o querubim ungido para proteger, ter se rebelado e pecado?”. 

1. Entendendo o Plano de Deus

            O autor de Hebreus, falando sobre a fé de Abraão, diz que  ele “aguardava a cidade que tem fundamentos, da qual Deus é o arquiteto e edificador” (Hebreus 11:10).    De fato, Deus é apresentado nas escrituras sagradas como “sumo-arquiteto”, aquele que arquitetou um plano maravilhoso antes da criação do mundo.   Note que “coincidência” interessante:  Jesus Cristo era filho de José, o carpinteiro, e ele próprio exercia a profissão do pai adotivo: “Não é este o filho do carpinteiro? Não se chama sua mãe Maria, e seus irmãos, Tiago, José, Simão e Judas?” (Mateus 13:55);  Não é este o carpinteiro, filho de Maria, irmão de Tiago, José, Judas e Simão? E não vivem aqui entre nós suas irmãs? E escandalizavam-se nele” (Marcos 6:3).
           
            A palavra grega traduzida para o português como “carpinteiro” é  “tékton”, que pode significar também, construtor.  Na língua portuguesa há a palavra “arquiteto”, que é aquele que desenha o projeto, o que planeja como ficará a obra depois de pronta.  O arquiteto dimensiona, esquematiza e planeja a obra antes de sua construção.   A palavra arquiteto, em nossa língua, é justamente a junção das palavras gregas “arké” + “tékton”.  A primeira palavra, “arké”, originou, na língua portuguesa, o prefixo “arc”, que deu origem a palavras do tipo “arqui-inimigo”, ou seja, maior inimigo.
           
            Portanto, se Jesus é o “tékton”, o construtor que veio “colocar a mão na massa”,  fazer o trabalho pesado, como um pedreiro em uma obra, o Pai é o “arquiteto”, o construtor maior, o que planejou a obra que o Filho iria executar.  Não é sem propósito que o apóstolo Paulo diz que nós somos o “edifício de Deus” (I Coríntios 3:9).

O apóstolo Paulo fala de um plano arquitetado por Deus, elaborado antes mesmo da fundação do mundo.  Deus, em sua imensa sabedoria, fez um plano extraordinário que transcende em muito nossa compreensão:

            “Agradeçamos ao Deus e Pai do nosso Senhor Jesus Cristo, pois ele nos tem abençoado por estarmos unidos com Cristo, dando-nos todos os dons espirituais do mundo celestial.  Antes da criação do mundo, Deus já nos havia escolhido para sermos dele por meio da nossa união com Cristo, a fim de pertencermos somente a Deus e nos apresentarmos diante dele sem culpa.
Por causa do seu amor por nós, Deus já havia resolvido que nos tornaria seus filhos, por meio de Jesus Cristo, pois este era o seu prazer e a sua vontade.  Portanto, louvemos a Deus pela sua gloriosa graça, que ele nos deu gratuitamente por meio do seu querido Filho.  Pois, pela morte de Cristo na cruz, nós somos libertados, isto é, os nossos pecados são perdoados. Como é maravilhosa a graça de Deus, que ele nos deu com tanta fartura!
           
Deus, em toda a sua sabedoria e entendimento, fez o que havia resolvido e nos revelou o plano secreto que tinha decidido realizar por meio de Cristo.  Esse plano é unir, no tempo certo, debaixo da autoridade de Cristo, tudo o que existe no céu e na terra.  Todas as coisas são feitas de acordo com o plano e com a decisão de Deus. De acordo com a sua vontade e com aquilo que ele havia resolvido desde o princípio, Deus nos escolheu para sermos o seu povo, por meio da nossa união com Cristo” (Efésios 1:3-9 – NTLH).

            Antes da fundação do mundo, Deus planejou, como um sábio arquiteto, o que iria fazer.  Seu objetivo era o de criar seres inteligentes, livres, santos como ele, e com quem pudesse se relacionar.  Em Efésios 1:4-5, na NTLH, lemos:  
           
“Antes da criação do mundo, Deus já nos havia escolhido para sermos dele por meio da nossa união com Cristo, a fim de pertencermos somente a Deus e nos apresentarmos diante dele sem culpa.   Por causa do seu amor por nós, Deus já havia resolvido que nos tornaria seus filhos, por meio de Jesus Cristo, pois este era o seu prazer e a sua vontade”.

2. A Queda, um mal necessário

            Ao criar o homem e a mulher, Deus iniciou a execução desse seu plano.  Adão e Eva foram criados à sua imagem e semelhança (Gênesis 1:27), e eram perfeitos.  Perfeitos, mas passíveis de escolherem o mal. O homem, criado por Deus seria, e é, a coroa de sua criação, mas o plano final de Deus não era Adão.  Deus planejou algo muito maior do que Adão, seu plano era a criação de seres absolutamente santos, tal como Ele próprio:  “assim como nos escolheu, nele, antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele” (Efésios 1:4).    

            Em I Coríntios 15: 45-49, lemos: 

            “Assim está também escrito: O primeiro homem, Adão, foi feito em alma vivente; o último Adão, em espírito vivificante.  Mas não é primeiro o espiritual, senão o animal; depois, o espiritual. O primeiro homem, da terra, é terreno; o segundo homem, o Senhor, é do céu.  Qual o terreno, tais são também os terrenos; e, qual o celestial, tais também os celestiais.  E, assim como trouxemos a imagem do terreno, assim traremos também a imagem do celestial”.

            Está claro, pelo texto acima, que o objetivo final de Deus, em seu plano detalhadamente  elaborado antes da fundação do mundo, era o de gerar criaturas que fossem perfeitamente santas e puras, à imagem de seu Filho Jesus.  No início seria necessário adquirirmos a imagem do terreno (Adão), para que no futuro, adquiramos a imagem do celestial, Jesus.    O alvo final da criação, no plano de Deus, não era o de gerar seres semelhantes a Adão, mas sim, a Cristo:  

            “Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos”.   (Rm 8:29)
                Por incrível que possa parecer, a queda foi necessária.  De certa forma, fez parte do projeto de Deus.  Por quê?  Porque o ser humano somente poderia ser semelhante a Deus se tivesse liberdade, se fosse livre, inclusive, para escolher desobedecer o Criador.   Conforme disse no início, muitos jovens me questionam: - Se a Bíblia diz que “viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom”, como foi possível então que entrasse o pecado no mundo?  Se era tudo perfeito, como pôde, o querubim ungido para proteger, ter se rebelado e pecado, e levado o casal adâmico à queda também?

É justamente aí que repousa a perfeição do plano de Deus na criação.  Deus não criou seres sem personalidade e robotizados,  programados para não pecar.   Muito pelo contrário, tanto o ser humano quanto os seres celestiais, foram criados com total liberdade e autonomia de escolha.  Deus criou Satanás perfeito e sem pecado, assim como criou o homem e a mulher também perfeitos e sem pecado, mas também os criou com potencial para pecar, ou seja, capazes de tomar decisões, inclusive contrárias à sua vontade.  

A capacidade de tomar decisão e a liberdade para decidir são bênçãos do Criador às suas criaturas e, penso eu, que quando viu Deus que essas duas coisas estavam implantadas e funcionando perfeitamente nos anjos e nos homens, declarou que era tudo muito bom, e descansou no sétimo dia.  O alvo de Deus ia muito além da criação de Adão e Eva, seu objetivo era criar seres semelhantes a si em tudo, e a liberdade de escolha era algo indispensável e inegociável em seu plano.  Observe que toda mensagem bíblica fala de liberdade.  Adão e Eva eram livres para escolher, e escolheram desobedecer a Deus.  O povo de Israel, sendo escravo no Egito, foi liberto por Deus.  Jesus veio para nos dar liberdade: “Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres” (João 8:36). 

Deus sabia que o homem iria cair, mas isso não mudou seu plano de criar alguém semelhante a si.  A queda faria parte do processo, seria conseqüência inevitável da liberdade dada ao homem.  Mas apesar da queda, havia, também, o plano de resgate após a queda.   Sem a liberdade não haveria a queda, mas, também, sem a liberdade o homem jamais conseguiria ser semelhante a Deus. 
Roberto Ramos da Silva
Pastor da Igreja Batista Central do Kobrasol; São José, SC
Bacharel em Teologia pelo STBSB. Licenciado em Física pela UFSC. Mestre em Física de Plasmas pelo Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA) .Doutor  em Física Atômica e Molecular pela UFSC. Diretor e Professor de Teologia do Instituto Batista de Educação, em Florianópolis,SC. Fundador e Presidente do Núcleo de Recuperação e Reabilitação de Vidas (NURREVI), Comunidade Terapêutica para tratamento de dependentes químicos do sexo feminino. Autor do livro “A Religião de Darwin”.





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