terça-feira, 19 de março de 2013

ESCRITORES DA LIBERDADE


“Educação se constrói. Não é algo inventado, ou adquirido de uma hora para outra. É feita no dia-a-dia. Em um momento pode-se colocar tudo a perder, se nós educadores não amarmos o que fazemos e também aqueles para quem fazemos”. (Marjorie E. Navarro)



Há algum tempo assisti ao Filme Escritores da Liberdade. Gostaria de falar um pouco sobre ele. É um filme baseado em fatos reais. A história se passa por volta do ano de 1992, onde a cidade de Los Angeles vive uma verdadeira guerra nos seus bairros mais pobres, causados por gangues que são movidos pelas tensões raciais.

O filme nos fala de uma instituição chamada escola, que não consegue promover a educação para um grupo marginalizado, uma instituição que valoriza os chamados bons e exclui aqueles que precisam lutar dia-a-dia pela própria vida, que nem sabe se chegará a maioridade.

É meio a este drama, vivido por adolescentes na faixa etária entre 14 e 15 anos que Erin Gruwell assume a sala de aula. Uma professora recém-formada, cheia de sonhos e, ideais. Ela fora criada em berço de ouro, ostenta suas belas pérolas, mas aos poucos vai percebendo que se não mudar suas atitudes, não conseguirá atingir nem o coração e, nem a mente de seus alunos. Ela imaginava que todos os alunos iriam corresponder ao seu modelo educacional, tornando-se frustrante os primeiros encontros, as brigas, os desencontros e as insatisfações são constantes nas expressões dos alunos, simplesmente ela é ignorada a ponto de ficar sozinha na sala de aula.

Aquela turma era uma turma excluída. Não eram aceitos pela sociedade de sua cidade, muito menos pela sociedade escolar. Eram alunos negros, mulatos e latinos, fadados ao fracasso, porque não acreditavam em si próprios.

Erin leva até a direção da Escola Wilson a dificuldade encontrada em sala de aula, e  também é ignorada inclusive pela direção da escola. Erin não desiste, chega em sala de aula com uma proposta de trabalho que se identifica com os alunos, fala com eles através do Hap, a música que eles gostam. No primeiro momento os argumentos são bizarros, os questionamentos são ofensivos: “...o que você faz aqui? o que vai fazer não vai mudar minha vida...” Por ela ser branca e rica, eles acabam achando que aquilo é um tipo de zombaria com eles e não aceitam a atitude dela. Profundamente assustada a professora responde perguntado se vale a pena participar de gangues, e se serão lembrados pelas atitudes.

Nesse instante a primeira semente é lançada, cada um tem a oportunidade de falar de si próprio, de seus medos, suas angústias, suas mágoas e demasiada violência. Ao manter este contato com alunos, e participando de forma ativa no mundo deles, a professora conquista a confiança, desse modo passa a etapa de superação das dificuldades, através da metodologia da leitura e escrita em diários. Eles registram tudo o que sentirem vontade de escrever a respeito da sua vida.

O respeito e autoconfiança são resgatados. Erin apresenta uma nova realidade possível de transformação. Os alunos saem da condição de marginalidade, de oprimidos e iniciam no campo das possibilidades, ao lutarem pelos seus ideais, pelas suas conquistas ao enfrentarem os obstáculos, não mais com a violência, mais com o conhecimento.

Gostaria de instigar o seu pensamento neste momento: o que estamos de fato fazendo em sala de aula que pode mudar a vida dos nossos alunos? O que estamos fazendo de diferente para que possamos vê-los estudando, ao invés de entrar para uma gangue ou usar drogas? O que precisamos mudar em nosso jeito de ser, falar, agir...? O que precisamos ensinar?

O filme Escritores da Liberdade traz na sua essência o resgate e a valorização a “Educação”. Te seu ápice, quando a professora lê as histórias escritas por eles, seus alunos e, viaja no mundo onde eles vivem, sente o que eles sentem e, sofre por pessoas que ninguém daria nada.

Quero deixar o grande desafio para cada um dos educadores de nosso país: não importa qual o lugar que estejamos atuando, precisamos sim, entender como nossos alunos vivem, o que sentem... Precisamos contextualizar o ensino, precisamos entender a diversidade e a pluralidade cultural, precisamos assimilar as diferenças sociais e econômicas, sem excluir ninguém.
Marjorie Esquina Navarro
Igreja Batista do Redentor em Jundiaí, SP
Pedagoga, Missionária da Junta de Missões Nacionais.
Trabalha como Educadora Social no Lar David Gomes em Barreiras, BA

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