“... o fim da
educação... é facilitar a aprendizagem (...) facilitar a aprendizagem reside em
certas qualidades de atitudes que existem na relação pessoal entre o
facilitador e o aprendiz.”
(Carl R. Rogers)
INTRODUÇÃO
Observando o pequeno S. L. L. F. de
6 anos de idade brincando com seus quebra-cabeças chamou-me atenção às inúmeras
tentativas de acertar. Em dado momento ele se deu conta de que já havia uma
figura montada na caixa do brinquedo e, a partir daí conseguiu realizar a tão
desejada montagem. A descoberta o deixou eufórico. Batendo as mãos veio em
minha direção gritando: - “Você viu, tia, eu consegui, eu aprendi.” A alegria
da comemoração atraiu outros familiares e o contentamento foi geral.
Algo, assim acontece com o bebê
diante de uma novidade: bater palmas, dançar, cantar, reconhecer o barulho de
um carro etc., ou o adulto que experimenta pela primeira vez ler, escrever,
usar o computador enfim, qualquer situação que sinaliza um avanço de
aprendizagem significativa – sem dúvida fruto do esforço próprio.
Segundo pesquisas dos
neurocientistas “a mente e cérebro
saudáveis são por natureza ávidos por informações”. A predisposição para
aprender depende entre outras situações da maturação de cada um.
A
predisposição para aprender depende entre outras situações da maturação de cada
um.
Mesmo com as diferenças individuais,
aprender é tão importante para a dinâmica psíquica que temos um “detector de
novidades” que seleciona e “avisa” o cérebro da chegada de informações até
então desconhecidas.
Muitas vezes a curiosidade (essa
importante aliada) que permeia o processo de aprender se perde ou fica em
segundo plano por falta de estímulo. O ser humano foi feito para explorar,
experimentar e dominar novas tecnologias, sem opressão e sem obrigação, pois
estas nublam o prazer de aprender, um novo saber assemelha-se a degustar um
novo sabor, isto representa um dos maiores desafios, pois propicia crescimento,
maturidade e sobretudo é satisfatório.
O ser humano foi
feito para explorar, experimentar e dominar novas tecnologias, sem opressão e
sem obrigação, pois estas nublam o prazer de aprender
1. Aprender
A ciência pedagógica tem sido
inquieta quanto ao fenômeno da aprendizagem. Algumas teorias divergem no que se
refere à natureza dos processos e mecanismos particulares em jogo. É notório
que a aprendizagem constitui-se em um processo, uma função que vai além da
aprendizagem escolar e que não se circunscreve exclusivamente a criança.
O ser humano aprende no uso de todo
o seu organismo para melhor integrar-se no meio físico, atendendo as
necessidades biológicas, psicológicas e sociológicas que se apresentam no
transcorrer da vida. Essas necessidades são consideradas obstáculos. Se não houvesse
obstáculos não haveria aprendizagem. A
predisposição para aprender advém dos obstáculos. O ser humano liberta-se cada
vez mais, quando se defronta com os obstáculos e supera-os.
Daí, podemos entender que o papel do
professor não é de meramente oferecer novos conteúdos, e sim, sensibilizar o
aluno a querer superar os obstáculos da vida acadêmica.
O
papel do professor não é de meramente oferecer novos conteúdos, e sim,
sensibilizar o aluno a querer superar os obstáculos da vida acadêmica.
“Nada
que diga a respeito ao ser humano, à possibilidade de seu aperfeiçoamento
físico e moral, os obstáculos a seu crescimento (...) nada que diga respeito
aos homens e mulheres podem passar despercebidos pelo educador progressista.
Não importa com que faixa etária trabalha (...) são gente em permanente
processo de busca.” (FREIRE – 1996. p.144)
2. A Evolução do
Conceito de Aprendizagem
Até o início do séc. XVI aprender
significava memorizar. Os alunos memorizavam textos exigidos pelos professores
sem qualquer questionamento. Isto os tornavam passivos, dependentes e inaptos,
pois a memorização de textos não os preparavam para a reflexão, nem para a
produção e muito menos para o diálogo crítico. Ao contrário os alunos eram
automáticos e repetidores.
A partir do séc XVII Comenius, o Pai
da Didática Moderna, apresentou um novo conceito de aprendizagem que consistia
de três estágios:
1. Compreensão (entendimento
teórico).
2. Memorização (registro cognitivo –
a memória retém o que foi ensinado).
3. Aplicação (é a aprendizagem em
prática).
Dessa forma o ensino passou a ser
tanto expositivo como explicativo. Hoje, verifica-se que a explanação verbal
serve apenas para introduzir a aprendizagem e não para incorporá-la de fato ao
entendimento do indivíduo:
“A
aprendizagem é um processo lento, gradual e complexo de interiorização e
assimilação no qual a atividade do aluno é fator decisivo. A atividade não é de
modo algum um processo passivo de mera reciprocidade. É, pelo contrário, um
processo eminentemente operativo em que a atenção, o empenho e o esforço do
aluno representa papel central e decisivo.” (MATTOS, 1963)
3. Conceituando
Aprendizagem
O conceito clássico de aprendizagem
diz ser uma mudança de comportamento. O
termo comportamento não se aplica só as ditas aprendizagens escolares. A
aprendizagem é construída pelas ocorrências do dia-a-dia desde o nascimento. É
por meio da aprendizagem que o indivíduo desenvolve comportamentos que
possibilitem interagir no meio social. Todas as atividades e realizações humanas
demonstram o resultado da aprendizagem.
A aprendizagem é um processo tão
importante e rico para a sobrevivência humana que cada vez mais as escolas e as
tecnologias estão em ritmo de aperfeiçoamento para que as ações pedagógicas
tenham os seus projetos mais eficientes.
A
aprendizagem é um processo tão importante e rico para a sobrevivência humana
que cada vez mais as escolas e as tecnologias estão em ritmo de aperfeiçoamento
para que as ações pedagógicas tenham os seus projetos mais eficientes.
As habilidades, os interesses, as
atitudes e as informações adquiridas, dentro e fora das escolas contribuem para
o ajustamento do indivíduo ao ambiente físico e social, como também, propicia
ao indivíduo a ter uma vida mais autônoma, vivendo melhor (ou pior), mas,
indubitavelmente, a viver de acordo com o que aprende.
“Para
que a aprendizagem provoque efetiva mudança de comportamento e amplie o
potencial do educando é necessário que ele perceba a relação entre o que está
aprendendo e a sua realidade (circunstâncias que o rodeia).” (DROQUET,
1995, p11)
4. O Prazer de
Aprender
“Nosso
cérebro quando confrontado com o desconhecido empenha-se para que lembremos não
apenas da novidade, mas também, das circunstâncias que envolvem o fato – o que
contribui para aprendermos de modo mais prazeroso.” (FENKER & SCHUTZE)
O Instituto de Neurologia Cognitiva
da Universidade Otto von Guericke em
Magdeburgo, Alemanha apresentou um estudo que pudesse responder como as células
neurais se comunicam entre si. As pesquisas mostraram que essa função é
desempenhada no cérebro por neurotransmissores as chamadas “substâncias
mensageiras” – a dopamina (células neurais nas quais se encontram o
neurotransmissor). O hipocampo (parte do lobo temporal do córtex, onde
informações dos diversos sistemas sensoriais se juntam e desempenham importante
papel para formação da memória). Se deixar de funcionar nos dois hemisférios
causa no indivíduo a incapacidade cognitiva de gravar novas informações. Por
isso o hipocampo é considerado o “detector de novidades” do cérebro.
Os especialistas em neurociência
explicam que se vivermos uma situação nova – e inesperada, esse acontecimento
fica registrado de forma mais intensa na memória. Como se explica isso? Pelo
fato de que as diversas regiões cerebrais participam dos processos de percepção
e memorização. Uma das mais importantes áreas de percepção é o hipocampo – que
se localiza na área inferior interna do lobo temporal.
Pode-se concluir que a novidade é um
mecanismo estimulador, ou seja, a novidade é uma ponte didática para estimular
a aprendizagem e a memória, além de tornar mais agradável e eficiente o desafio
de aprender. Essa conclusão fornece aos educadores uma possível ferramenta para
a estruturação de suas aulas: o uso estratégico de conteúdos surpresas. E, na
prática seria conveniente considerar que muitos professores estão habituados,
primeiramente, rever a matéria da última aula antes de passar para o novo tema.
Não se trata de negligências a
revisão de conteúdos o que se propõe é apresentar nos primeiros momentos da
aula o novo conteúdo – revestido (se possível) de criatividade, a fim de
provocar impacto e preparar o cérebro para novas construções. Assim, as
atividades de revisão, nem sempre estimuladoras, fossem retornadas num ritmo
mais agradável.
“Ensinar
e aprender tem que ver com o esforço metodicamente crítico do professor (...) a
prática educativa envolve afetividade, alegria, capacidade científica, domínio
técnico a serviço da mudança ou, lamentavelmente, da permanência do hoje.” (FEIRE, 1996. p 143)
5. O afeto e a
Aprendizagem
O ser humano nasce com predisposição
para interagir. Para sobreviver necessita estabelecer uma relação estável com
outras pessoas em seu ambiente. Com esta relação os padrões afetivos se
desenvolvem, fornecem substrato para aprendizagem que vai se processando lenta
e gradual. É neste contexto que o bebê dá início à construção de seus esquemas
e da sua afetividade.
A educação infantil é o referencial
básico desta inter-relação do professor com a criança que gera uma proximidade
afetiva. Essa inter-relação é o fio condutor e o suporte emocional da
aprendizagem.
“A
atividade docente de que a discente não se separa é uma experiência alegre por
natureza (...) A afetividade não se acha excluída da cognoscibilidade. O que não
posso obviamente permitir é que minha afetividade interfira no cumprimento
ético de meu dever de professor no exercício de minha autoridade.” (FREIRE, 1996. p 141)
A criança precisa ser amada, aceita,
acolhida, ouvida etc. a fim de que possa despertar para vida da curiosidade e
do aprendizado. A presença satisfatória do adulto dá a criança segurança física
e emocional preparando-a para o aprendizado.
“O
amor é um sentimento nobre que tem a capacidade de fazer o ser humano feliz.
Todos nascem para a felicidade. Esta é uma verdade universal. Em qualquer
cultura por maiores que sejam os obstáculos ninguém quer ser infeliz (...)
Quando se falar em felicidade se fala em amor (...) o amor que faz com que o
equilíbrio possa ser visível. O amor simplesmente o amor.” (CHALITA, 2001. p 245)
O afeto e a inteligência se
estruturam nas ações e pelas ações dos indivíduos sendo o afeto entendido como
uma fonte energética necessária para que a estrutura cognitiva passe a operar,
ou seja, sem matéria-prima não podemos operar o produto.
O afeto influencia a velocidade com
que se constrói o conhecimento, pois quando o indivíduo se sente seguro aprende
com mais facilidade. Tanto a inteligência quanto a afetividade são mecanismos
de adaptação do ser humano com o mundo onde está inserido.
O afeto é também um regulador de
ação influindo na escolha de objetivos e na valorização de si próprio. O papel
do professor é específico. Ele prepara e organiza o universo onde os indivíduos
atuam, buscam e se interagem. A postura do professor se manifesta na percepção
e sensibilidade do interesse do aluno de sentir o mundo.
A
postura do professor se manifesta na percepção e sensibilidade do interesse do
aluno de sentir o mundo.
“Para
ser validada toda educação, toda ação educativa deve necessariamente ser
precedida de uma reflexão sobre o homem e de uma analise do meio de vida
concreto, do homem concreto a quem queremos educar, ou melhor: a quem queremos
ajudar a que se eduque. Se vier faltas tal reflexão sobre o homem corre-se o
risco de adotar métodos educativos e maneiras de agir que reduzem o homem a
condição de objeto, quando a sua vocação é a de ser sujeito e não objeto.” (FREIRE
2000)
CONCLUSÃO
Retomando o que já foi dito sobre a
aprendizagem, está não é uma ação mecânica, uma simples transmissão do
professor que ensina e do aluno que aprende. Ao contrário, é uma relação
recíproca na qual se destaca o papel dirigente do professor e as atividades do
aluno. O ensino não subsiste isoladamente, mas na relação com a aprendizagem e esta
exige atividade mental para se concretizar.
Jonhn Dewey (filósofo e educador
norte-americano defendia a democracia e a liberdade de pensamento como
instrumento para a maturação emocional e intelectual da criança. 1859-1952): “Só se aprende a fazer fazendo”.
As atividades extraclasse colocam o
educando em condições de mostrar o que foi aprendido devido a participação do
aluno. A participação só faz sentido quando o aluno está motivado, ávido por
saber, manifestando, espontaneamente, o desejo de novas informações. A isto
chamamos de liberdade.
Portanto, todo ensino deve visar o
conhecimento, a habilidade e atitude que não sejam mostruários apenas nas
avaliações escolares, mas principalmente, fora dela. Deve o professor
contribuir em sua prática didática para a construção de conhecimentos
essenciais para a vida do aluno e não se detendo em aspectos secundários e
memorísticos que pouco contribui para o impacto cognitivo. A aprendizagem não
pode ser lógico-matemática e lingüística, precisa ser integral.
O afeto contribui para que o aluno
se sinta seguro para elaborar e esquematizar atividades (sejam escolares ou
lúdicas). Quando se sente fragilizado, seja qual for o motivo a memória não
ajuda. A qualidade da aprendizagem depende da saúde física e emocional e todo
professor deve atentar-se para isto.
“Não
basta aprender a conhecer. É preciso aprender a pensar, a pensar a realidade e
não apenas pensar pensamentos, pensar o já dito, o já feito reproduzir o
pensamento (...) É preciso pensar também um novo, reinventar o pensar, pensar e
reinventar o futuro.”
(Moacir Gadott)
Bibliografia
FREIRE,
Paulo. Pedagogia da Autonomia – Saberes
Necessários a Prática Educativa, São Paulo: Paz na Terra. 1996.
MATTOS,
Luiz Alves de. Sumário da Didática Geral.
16ª ed., Rio de Janeiro: Ed Aurora, 1963.
DROUET,
Ruth Caribe da Rocha. Distúrbios da Aprendizagem. 2ªed., São
Paulo: Ática, 1995.
FREIRE,
Paulo. Pedagogia da Autonomia – Saberes
Necessários a Prática Educativa, São Paulo: Paz na Terra. 1996.
CHALITA,
Gabriel. Educação a Solução Está no
Abfeto. São Paulo: Ed. Gente. 2001.
FREIRE,
Paulo. Uma Escola Chamada Vida. São
Paulo: Ed. Ática. 2000.
Periódico:
FENKER,
Daniela & HARMUT, Schutze. Revista
Mente/Cérebro – ano XVI, nº193 artigo – O fascínio da surpresa. p. 38
Ana Lúcia Leonardo Carriço
Bacharel em Educação
Religiosa. Licenciatura em Pedagogia com
Habilitação em Administração Educacional. Pós-Graduação em Docência
Superior e Psicopedagogia.
Mestre em Ciências da Religião. Professora do
Seminário Teológico Batista em Duque de Caxias, RJ e Inspetora
Educacional da Secretaria Estadual de Educação, RJ