“Educação se constrói. Não é algo inventado, ou adquirido de uma hora
para outra. É feita no dia-a-dia. Em um momento pode-se colocar tudo a perder,
se nós educadores não amarmos o que fazemos e também aqueles para quem
fazemos”. (Marjorie E. Navarro)
Há algum tempo assisti ao Filme Escritores da Liberdade. Gostaria de
falar um pouco sobre ele. É um filme baseado em fatos reais. A história se
passa por volta do ano de 1992, onde a cidade de Los Angeles vive uma verdadeira
guerra nos seus bairros mais pobres, causados por gangues que são movidos pelas
tensões raciais.
O filme nos fala de uma instituição chamada escola, que não consegue
promover a educação para um grupo marginalizado, uma instituição que valoriza
os chamados bons e exclui aqueles que precisam lutar dia-a-dia pela própria
vida, que nem sabe se chegará a maioridade.
É meio a este drama, vivido por adolescentes na faixa etária entre 14
e 15 anos que Erin Gruwell assume a sala de aula. Uma professora recém-formada,
cheia de sonhos e, ideais. Ela fora criada em berço de ouro, ostenta suas belas
pérolas, mas aos poucos vai percebendo que se não mudar suas atitudes, não
conseguirá atingir nem o coração e, nem a mente de seus alunos. Ela imaginava
que todos os alunos iriam corresponder ao seu modelo educacional, tornando-se
frustrante os primeiros encontros, as brigas, os desencontros e as
insatisfações são constantes nas expressões dos alunos, simplesmente ela é
ignorada a ponto de ficar sozinha na sala de aula.
Aquela turma era uma turma excluída. Não eram aceitos pela sociedade
de sua cidade, muito menos pela sociedade escolar. Eram alunos negros, mulatos
e latinos, fadados ao fracasso, porque não acreditavam em si próprios.
Erin leva até a direção da Escola Wilson a dificuldade encontrada em
sala de aula, e também é ignorada
inclusive pela direção da escola. Erin não desiste, chega em sala de aula com
uma proposta de trabalho que se identifica com os alunos, fala com eles através
do Hap, a música que eles gostam. No primeiro momento os argumentos são
bizarros, os questionamentos são ofensivos: “...o que você faz aqui? o que vai
fazer não vai mudar minha vida...” Por ela ser branca e rica, eles acabam
achando que aquilo é um tipo de zombaria com eles e não aceitam a atitude dela.
Profundamente assustada a professora responde perguntado se vale a pena
participar de gangues, e se serão lembrados pelas atitudes.
Nesse instante a primeira semente é lançada, cada um tem a
oportunidade de falar de si próprio, de seus medos, suas angústias, suas mágoas
e demasiada violência. Ao manter este contato com alunos, e participando de
forma ativa no mundo deles, a professora conquista a confiança, desse modo
passa a etapa de superação das dificuldades, através da metodologia da leitura
e escrita em diários. Eles registram tudo o que sentirem vontade de escrever a
respeito da sua vida.
O respeito e autoconfiança são resgatados. Erin apresenta uma nova
realidade possível de transformação. Os alunos saem da condição de marginalidade,
de oprimidos e iniciam no campo das possibilidades, ao lutarem pelos seus
ideais, pelas suas conquistas ao enfrentarem os obstáculos, não mais com a
violência, mais com o conhecimento.
Gostaria de instigar o seu pensamento neste momento: o que estamos de
fato fazendo em sala de aula que pode mudar a vida dos nossos alunos? O que
estamos fazendo de diferente para que possamos vê-los estudando, ao invés de
entrar para uma gangue ou usar drogas? O que precisamos mudar em nosso jeito de
ser, falar, agir...? O que precisamos ensinar?
O filme Escritores da Liberdade traz na sua essência o resgate e a
valorização a “Educação”. Te seu
ápice, quando a professora lê as histórias escritas por eles, seus alunos e,
viaja no mundo onde eles vivem, sente o que eles sentem e, sofre por pessoas
que ninguém daria nada.
Quero deixar o grande desafio para cada um dos educadores de nosso
país: não importa qual o lugar que estejamos atuando, precisamos sim, entender como
nossos alunos vivem, o que sentem... Precisamos contextualizar o ensino,
precisamos entender a diversidade e a pluralidade cultural, precisamos
assimilar as diferenças sociais e econômicas, sem excluir ninguém.
Marjorie
Esquina Navarro
Igreja Batista do Redentor em Jundiaí, SP
Pedagoga, Missionária da Junta de Missões Nacionais.
Trabalha como Educadora Social no Lar David
Gomes em Barreiras, BA
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