Vivemos no
domínio da aprendizagem. Ensino e aprendizagem estão juntos nas grandes
estruturas de educação criadas para o progresso da humanidade. Na família, a
gente aprende boas maneiras, valores e princípios. Na escola, a gente aprende a
falar corretamente, a usar novas tecnologias, a dominar novos conhecimentos. Na
sociedade, aprendemos a respeitar as pessoas, a cumprir normas, a construir a
carreira. Na igreja, a gente aprende a doutrina, a cumprir os rituais, a
praticar boas ações.
Enfim, a
gente se depara com um mundo em grandes transformações que nos exige novas
aprendizagens, de tal modo que não dá para se falar apenas numa recepção de
informações.
Em um
relatório para a Unesco, chegou-se à conclusão acerca dos quatro tipos
fundamentais de aprendizagem: aprender a
conhecer, aprender a fazer, aprender a viver com os outros e aprender a ser.
Eu me lembro, inclusive, do que disse o deão acadêmico à época de minha
conclusão do curso de Teologia: “vocês só
aprenderam a aprender.”
Diante de
tantos saberes e informações, penso que chegou o tempo de também aprender a
desaprender. O acúmulo das coisas que aprendemos ao longo da vida e que nos são
impostas como exigências acabam, de algum modo, resultando em verdadeiros
entulhos que limitam a nossa percepção da riqueza que é a vida. A imposição da
máxima especialização do conhecimento produz uma capacidade mínima de descobrir
os valores e a beleza que há em muitos aspectos relacionados àquilo que podemos
chamar de verdadeiramente humano. Temo até que precisamos de outra estrutura
que nos ensine a desaprender.
Principalmente
no que diz respeito à fé cristã, há muita coisa a se desaprender. O
cristianismo levou séculos produzindo uma quantidade enorme de conhecimentos profundos e úteis a seu tempo, sem dúvida.
Mas que podem limitar a nossa percepção da necessidade das pessoas de nossa
geração. Dito de uma maneira mais concreta:
Precisamos
urgentemente desaprender a ideia de que temos a capacidade de conhecer tudo, de
ser auto-suficiente, como um sujeito autônomo, dotado de vontade e livre, tal
como a Modernidade nos ensinou, para aprender a ser mais dependentes de Deus.
Precisamos
desaprender a imagem de um Deus paternalista e terrível, como se fosse um vigia
sorrateiro, um manipulador de marionetes, alguém pronto a mandar pessoas para o
inferno, como nos ensinou a cristandade, para aprender mais sobre a maneira de
acolher o cuidado amoroso de Deus por nós.
Precisamos
desaprender a ideia de que Jesus foi um Deus disfarçado de homem, que sabia de
tudo e que viveu sem sentir a dor humana, para aprender o mistério que envolve
a pessoa de Jesus de Nazaré, que, através de sua vida toda realmente humana,
revela o Filho enviado pelo Pai, como dom por meio do Espírito Santo, a fim de
que possamos viver a nossa vida humana e recebermos a filiação divina.
Precisamos
desaprender a ideia de que ser cristão está ligado a acreditar em verdades
eternas, compreensíveis logicamente, e a praticar normas e mandamentos, para
aprendermos a recuperar a alegria de viver o relacionamento pessoal com Jesus
que se dá a partir do meu relacionamento com os irmãos.
Precisamos
desaprender a ideia de que a fé se expressa por meio de ações mágicas, de
merecimento e de troca, para aprender que ela só faz sentido a partir da
expressão da Palavra que se manifesta através da vida em comunhão.
A lista
poderia ser enorme, mas essas pequenas indicações já mostram o quanto é urgente
aprender a desaprender para nós, cristãos.
Irênio Silveira Chaves
Igreja Batista da
Orla, Niterói, RJ
Pastor, escritor e professor.
Mestre em Filosofia
e Doutorando em Teologia.
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